Por Bruno Mesko Dias
Foram muitos anos e
acontecimentos para chegar a história atual da aviação brasileira. E tudo isso
se deve a diversas pessoas que contribuíram para essa evolução. Entre
aeronautas e aeroviários, houveram mulheres que, assim como os homens, também
tiveram presença nos campos de aviação e foram personagens principais em muitos
desses feitos. Uma destas mulheres se chama Thereza de Marzo, a primeira mulher
piloto do Brasil.
As mulheres que em pleno século 21 estão cada vez mais presentes comandando as cabines de aviões, devem ao mérito das primeiras aviadoras e também acompanhantes de voo, que ultrapassaram medos e limites impostos pela sociedade da época, para provar que não só tinham capacidade de estar naquelas posições, como mereciam seu lugar naquele espaço, se tornando verdadeiros exemplos para a atualidade. Portanto, um salve a Thereza de Marzo, figura feminina precursora em pilotagem de aeronave no Brasil, considerada a primeira mulher brasileira a voar sozinha.
História de Thereza de Marzo
Nascida na cidade de São Paulo no
dia 04 de agosto de 1903, Thereza foi a primeira mulher piloto na história da
aviação brasileira, oficialmente uma aviadora brevetada do país. Apesar do
forte machismo da época e das dificuldades em que as mulheres enfrentavam para
assumir qualquer posto profissional, já que eram apenas classificadas como
esposas, mães e domésticas, enfrentou bravamente seu sonho de voar,
conquistando então seu Brevê (um documento que dá permissão para pilotar aviões
civis e militares em território nacional e internacional) que foi reconhecido
pela Federação Aeronáutica e pelo Aeroclube do Brasil, documento de nº 76, no
dia 08 de abril de 1922.
De origem italiana, com pais
imigrantes e mais seis irmãos, Thereza deu o ponta pé para a realização de seu
sonho aos 17 anos. Seus pais não a apoiaram, então teve que pagar por contra
própria o curso de pilotagem, decidiu assim rifar sua Vitrola aos familiares
para conseguir dinheiro e se matricular na escola de aviação, que também era
frequentada pelos irmãos, que foram pilotos, João e Enrico Robba, que voaram na
1ª Guerra Mundial, e puderam auxiliar a irmã em sua conquista.
Thereza pagou 600 mil réis por
dez horas de voo, que foram divididas em algumas aulas, seus professores faziam
muitas viagem e por conta disso quem se tornou seu instrutor foi Fritz Roeler,
um piloto alemão e engenheiro mecânico, que mais tarde veio a virar seu marido.
No teste, Thereza passou no exame sem dificuldades, voou em um avião de modelo
Caudron G.3 de 120 HP com motor rotativo, fabricado na França. Ficou 40 minutos
pelo céu da cidade de Santos e executou com êxito as manobras obrigatórias,
mesmo sendo em uma pista pequena conseguiu impressionar a todos que ali
estavam. Isso tudo ocorreu no dia 17 de março de 1922, se tornando assim a
primeira mulher brasileira a voar sozinha. Nesse dia quem examinava seu teste
eram os deputados Amadeu Saraiva e Manoel Franco, além do Doutor Luiz Ferreira
Guimarães, que era o diretor do Aeroclube do Brasil.
Rumos tomados após o casamento
Na data do dia 25 de setembro de 1926, Thereza
casou-se com Fritz Roesler, seu instrutor. O casamento fez Thereza se
distanciar dos aviões, pois o marido se revelou muito ciumento, não
permitindo-a trabalhar no meio de outros, nem a pilotar. Acabou se acomodando e
ficou apenas com o cargo de mulher de aviador. Na época havia o Código Civil de
1916 que impunha que mulheres casadas deveriam ter autorização para realizar
algumas atividades, o que a dificultava ainda mais de qualquer possível
rebeldia.
Por conta dos velhos preconceitos
Thereza deixou de voar e conta a história que chegou a ouvir do marido, que:
“Um aviador na família já bastava!”. Abandonou assim uma trajetória de muitas
horas de voo e de um reide aéreo (Incursão aérea rápida sobre outro território)
que conseguiu realizar entre São Paulo e Santos na época das comemorações do
centenário da Independência.
Assim seu único trabalho se tornou estar ao lado do marido quando iam atrás de empreendimentos em relação a aviação. Nesse quesito incluíram-se na caminhada deles a criação da Escola de Pilotagem e do Clube de Planadores, no Campo de Marte, na cidade de São Paulo e a construção dos primeiros planadores EAY-101 e aviões “Paulistinha” EAY-201, modelo que o marido havia projeto baseado na versão americana do Taylor Cub.
Seu casamento durou 45 anos e o
fim se deu por conta da morte do marido. No ano de 1976, com 73 anos de idade,
Thereza recebeu condecoração da Ordem do Mérito Aeronáutico com uma medalha de
ouro. Morreu aos 83 anos, dez anos depois da honra recebida, em 9 de fevereiro
de 1986, e está sepultada no cemitério do Araçá, junto ao marido, em São Paulo.
Não há relatos sobre o casal ter tido filhos.
Feitos históricos de Thereza de Marzo
Em 1923 teve ideia de construir um hangar no
Ipiranga, porém não havia recursos e para conseguir o dinheiro pediu doações em
praça pública, em Santos, cidade do litoral do estado de São Paulo. Após
conseguir a quantia necessária o hangar foi inaugurado e nele também a Escola
de Aviação Ypiranga. Mas infelizmente, ambos foram desativados pouco tempo
depois.
Já em 1924, durante a Revolução,
ocorreu o confisco dos aviões particulares do marido, pois para manter as
aeronaves em solo tinha um custo muito elevado. A mesma chegou a pedir ajuda ao
presidente da república da época, Washington Luiz, e que, como consta na
história, recebeu a resposta de: “Não quero contribuir para seu suicídio!”.
Thereza di Marzo chegou a ser
cicerone (pessoa que mostra e explica a visitantes ou a turistas rotas, pontos
turísticos e características de um lugar) de aviadores portugueses, os mesmos
que ficaram conhecidos por terem realizado a primeira travessia aérea do
Atlântico Sul.
Ela também criou as chamadas
“Tardes de Aviação”, nas quais realizava voos panorâmicos com passageiros, para
fim de lazer, podendo assim matar a saudade de pilotar.
Por fim ela registrou oficialmente 350 horas e 54 minutos de voo em caderneta, sendo que na verdade acumulou muito mais, porém o marido não contabilizava por não achar necessária a esposa ter esses registros em documentos. E assim foi a história de uma grande figura feminina que ficará eternamente memorizada na construção da trajetória da aviação brasileira.
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