Foto ilustrativa. |
Corria o ano 2000, meados de abril e eu, um jovem imigrante brasileiro inexperiente, tentando ganhar sorrisos da boa sorte em Portugal.
As coisas obviamente não ocorrem dentro da métrica dos nossos planos, e com isso, a frustração acaba nos confiscando a vontade de sorrir e desta maneira, as cores da vida acabam desaparecendo dos nossos olhos. Nada eu via do horizonte azul que tanto almejei.
Porém, uma cena a qual presenciei, fez com que eu meditasse e assim concluísse que haviam situações piores sendo vividas por outras pessoas e estas assim mesmo, conseguiam enxergar as flores por entre a lama da desilusão...
Todas as manhãs, eu via um morador de rua em uma cadeira de rodas a observar os pombos e a conversar com os transeuntes de uma praça em Belém, praça esta onde eu passava todos os dias a caminho do trabalho. Um ancião que trazia nos cabelos brancos as experiencias da vida. Sem as pernas, porém sempre sorridente, o velho português de roupas surradas, parecia não se abalar com sua própria sorte.
Um dia, em que a vida me parecia tão sem cor, onde meu semblante certamente denunciava minha tristeza, levantei-me e parti para o trabalho, somavam-se aos meus sentimentos maus, muita saudade dos meus... Lembro-me que naquela manhã eu só me dei conta da vida, quando passei cabisbaixo pelo velho da cadeira de rodas, só o ví quando ele dirigiu a palavra a mim. Eu não o havia notado e tampouco dado conta da beleza daquela manhã de céu azul.
Talvez o velhinho desprovido de pernas, houvesse percebido minha condição cabisbaixa e quis me alertar sobre a vida. O silêncio de minha viagem por meus pensamentos, foi quebrado por sua voz amistosa que me falou claramente em seu sotaque português: Bom dia pah! Faz um lindo dia!"
Eu o olhei, ele estava a sorrir abertamente, sem se importar com sua idade avançada e muito menos com a sua condição de cadeirante, ele não tinha as pernas... Eu lhe retribuí o sorriso que ha dias não ofertava a ninguém.
Eu era um jovem, ainda na primeira metade da minha segunda década de vida, eu era provido de saúde física, tinha que considerar isso, o dia realmente era muito lindo. Um velho deficiente, provavelmente sem um lar, dado as suas condições de abandono, deixou a mim seu sorriso o que muito confortou aquele jovem cansado que eu havia me tornado.
Naquela manhã de abril, eu ergui a cabeça e vi que o dia estava muito lindo. Nunca mais tive notícia daquele senhor, porém, ele no auto de sua simplicidade, tornou-se um dos meus melhores professores...
O velho português dominava a arte de viajar leve pela vida.
Bom dia, faz um lindo dia!
Mateus Brandão de Souza
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