Moïse era um trabalhar sem garantia de direitos que foi morto ao tentar receber um pagamento l Foto: Reprodução das redes sociais) |
A sociedade está perdendo a
capacidade de ter uma visão de classe trabalhadora e que a grande imprensa
trabalha para aprofundar o dogma do individualismo, da alienação e da
despolitização
Por Carolina Maria Ruy
No dia 10 de outubro de 1978 o
trabalhador metalúrgico Nelson Pereira de Jesus, de 22 anos, foi assassinado a
tiros em frente a fábrica em que trabalhava, a Metalúrgica Alfa, em São Paulo,
pelo advogado da empresa porque foi cobrar “600 cruzeiros de horas extras que
não estavam incluídos nos pagamentos”.
Um ano depois, o metalúrgico
Santo Dias, de 37 anos, foi assassinado enquanto participava de uma greve em
frente à fábrica Sylvânia, em São Paulo.
Em janeiro de 1976 o metalúrgico da Metal Arte, SP, Manoel Fiel Filho, 49 anos, foi levado pelo DOI-CODI e morto sob tortura.
Em julho de 1917 o sapateiro José
Martinez, de 21 anos, espanhol recém chegado ao Brasil, foi morto pela polícia
de São Paulo quando participava de uma greve em frente à fábrica Mariângela.
Em janeiro de 2022 o congolês
Moise Mugenyi de 24 anos, foi morto por espancamento no Rio de Janeiro porque
foi cobrar pagamentos atrasados no quiosque Tropicália, em que prestava
serviço.
Nelson era mineiro, branco. Santo era paulista de Terra Roxa, negro. Manoel, alagoano, branco. Martinez, espanhol, branco. Moise, congolês, negro.
Quando morreu Santo Dias, em
1979, a imprensa noticiou “Metalúrgico foi morto num piquete”.
Meses antes o próprio Santo Dias
havia denunciado e protestado contra o assassinato do companheiro Nelson
Pereira de Jesus.
Quando Martinez morreu a imprensa noticiou: “Morreu o sapateiro José Martinez” e não “A polícia matou o espanhol”.
Sobre o assassinato de Moise,
entretanto, a imprensa destaca sua raça, sua nacionalidade, e sua condição de
“refugiado” antes de sua condição de trabalhador.
É evidente que o forte racismo
que existe no Brasil produz esse tipo de violência. E que a pobreza atinge de
maneira desproporcional os negros, que são as principais vítimas das mazelas
sociais.
Mas é evidente também que a sociedade está perdendo a capacidade de ter uma visão de classe trabalhadora e que a grande imprensa trabalha para aprofundar o dogma do individualismo, da alienação e da despolitização.
Cabe ao movimento social, especialmente o movimento sindical, não cair em armadilhas que nos dividem e enfraquecem a ação política. A esquerda e o movimento sindical devem enxergar o trabalhador como tal para lutar por ele com toda sua experiencia e poder de mobilização.
Nenhum comentário:
Postar um comentário