“Me encontrarão onde sempre estive: no centro de todos os debates que envolverem o interesse nacional.” (Leonel Brizola).
Por Henrique Matthiesen
Em meio às comemorações e às
análises referentes ao centenário de nascimento de Leonel Brizola, evidenciamos
seus grandes feitos, suas ideias e sua trajetória.
Dentre as louvações das mais
diversas correntes políticas, há um evento que necessita ser pautado: o fato de
Brizola não ter chegado à Presidência da República.
À luz da historiografia, não há como negar que Brizola sofrera um veto, cuja determinação não fora decidida por quem fala português, embora as elites tupiniquins vassalas aos interesses internacionais, agissem conforme os ditames do imperialismo norte-americano.
Sim, Washington jamais permitiria
que Brizola fosse presidente. Os locatários da Casa Branca, sempre monitoraram
Brizola e agiram o quanto puderam para obstaculizar sua ascensão à presidência.
Vastos relatórios das agências de
inteligência, assim como testemunhos, livros etc., relatam o monitoramento e as
preocupações sobre Brizola.
Fruto fecundo do Queremismo, na década de 1940, Brizola herdou a conceituação mais genuína sobre soberania nacional. Para ele nada era mais sagrado do que os interesses pátrios.
Aliás, o Trabalhismo de Getúlio,
Jango e, consequentemente, de Brizola, sofreram diretamente contra as ações
engendradas pelos ianques.
Getúlio Vargas, que ousou criar a
Petrobras foi levado ao suicídio: as digitais americanas na desestabilização
nacional durante a Era Vargas são incontestes. Jango enfrentou o Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática
(IBAD); todos financiados com dólares americanos, sem contar a ação direta do
embaixador, Lincoln Gordon, e sofrera o golpe.
Fatos estes demonstram que o
Trabalhismo brasileiro sempre sofrera a oposição dos EUA e que o golpe de 1964
fora, de fato, um golpe contra esta corrente de pensamento.
Com Brizola não seria diferente. Até porque, suas ações durante o Governo do Rio Grande do Sul (1959-1963) revelaram suas ideias e seu comportamento antivassalagem.
Foi assim ao desapropriar empresas como a Bond and Share que explorava os serviços de energia elétrica e se negava a estender seus serviços às zonas rurais, e a Internacional Telephone and Telegraph, ITT, detentora do monopólio dos serviços telefônicos. Sem falar na ousadia de Brizola em fazer a reforma agrária ou, simplesmente, a sua determinação e a épica Campanha da Legalidade.
Estes fatos aterrorizaram os
interesses americanos e marcaram Brizola, definitivamente, como oponente ianque
e jamais deveria ser presidente, além de tornar-se o inimigo número 1 do golpe
de 1964, como também fora um dos exilados mais vigiado e monitorado pelas
agências de inteligência.
Nem mesmo a ação humanitária de
Jimmy Carter concedendo asilo político a Brizola, devido à sua expulsão do
Uruguai, removeu o veto que os interesses americanos puseram contra Brizola.
Assim foi com o golpe de Golbery do Couto e Silva quando tiraram a legenda do PTB de Brizola, a fraude da Proconsult que quase surrupiou seu direito de governar o estado do Rio de Janeiro, os sucessivos adiamentos de eleições diretas para presidente, que só ocorreriam em 1989, entre outros fatos que impediram-no de ser presidente.
Para isso, os ianques sempre
contaram com ajuda preciosa de nossas elites, destaque aqui para o senhor
Roberto Marinho e as Organizações Globo, opositores confessos de Brizola.
Temiam eles (os americanos) que
Brizola transformaria o Brasil não em uma nova Cuba, mas em uma China do século
XXI.
O pecado mortal de Brizola era
sua independência, sua concepção de soberania nacional e sua coragem. Brizola
jamais se curvou para chegar à presidência; perdeu eleições, mas manteve a sua
honra, as suas ideias coerentes e a sua espinha ereta. Talvez esta seja mais
uma razão de sua grandiosidade.
Perdeu o Brasil, perderam as
crianças, perdeu a nacionalidade.
Não nos regozijamos em estar ao lado dos “vencedores”, afinal, o Brasil sonhado por Brizola continua a nutrir e a mobilizar milhares de brasileiros.
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