As mudanças que o governo de Jair Bolsonaro (PSL) quer fazer
nas regras de pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC) “podem
resultar em perdas entre 23,6% e 32,8% do valor presente dos benefícios para os
idosos”, afirma o Dieese em nota técnica que analisou estudo da Secretaria de
Política Econômica (SPE), ligada ao Ministério da Economia.
O Dieese refez os cálculos apresentados pelo governo,
mantendo a mesma metodologia, mas com a adoção de parâmetros que, em
consonância com declarações do ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes,
são mais adequados à realidade, segundo a nota divulgada pela entidade.
Em 12 de março, a SPE divulgou um estudo defendendo as
alterações sugeridas pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 06/2019 no
BPC destinado a idosos em situação de miserabilidade, aqueles que têm renda
familiar igual ou menor de um quarto do salário mínimo.
De acordo com o texto da PEC, ao invés de pagar um salário
mínimo (R$ 998,00) a pessoas com mais de 65 anos, que não conseguiram cumprir a
regra de tempo mínimo de contribuição ao INSS de 15 anos para ter direito a
aposentadoria, o governo pagaria R$ 400,00 a partir dos 60 anos. Só a partir
dos 70 anos, esses idosos passariam a receber um salário mínimo. Além disso, só
poderá se tornar beneficiário o idoso cuja família tenha patrimônio inferior a
R$ 95 mil.
Os técnicos da secretaria fizeram simulações tentando
demonstrar que essas medidas aumentariam o bem-estar dos beneficiários quando
comparadas às normas hoje vigentes, uma vez que representariam ganhos
significativos em valor presente.
O Dieese afirma que isso acontece, entre outros fatores,
porque o governo considerou em seu estudo taxas de juros inadequadas por serem,
segundo o próprio Guedes, distorcidas e absurdas, “o que leva a resultados
completamente fora da realidade”.
“De fato, o ministro tem razão”, segue a nota técnica, “as
taxas de juros praticadas pelos bancos no Brasil são mesmo absurdas e, ao
adotá-las, o estudo chega a resultados que fogem ao bom senso. Para
exemplificar, segundo os cálculos apresentados, R$ 400 hoje valem o mesmo que
R$ 554.686, em 2029. Ou seja, segundo a lógica que orienta os técnicos do
governo, seria mais vantajoso receber os R$ 400 hoje do que meio milhão daqui a
10 anos”.
Além disso, a SPE ignorou que o grau de esforço no trabalho
aumenta com o passar dos anos. “Desconsiderou também que as atividades a que os
idosos em situação miserável se submetem são especialmente desgastantes e
penosas”, acrescenta o Dieese, concluindo a perda no valor, “o que significa
uma redução do bem-estar desses idosos”.
Em um dos cenários descritos na nota técnica, com base em
“parâmetros mais realistas”, o beneficiário receberia R$ 72.899 no período de
10 anos, considerando taxa de retorno da poupança e inflação (estimada em 4% ao
ano). Pelo modelo do governo, o valor presente seria de R$ 51.026, diferença de
quase R$ 25 mil, perda de 32,8%.
A mudança nas regras de acesso ao BPC, afirma o Dieese na
nota técnica, afetaria de imediato as famílias dos mais de 2 milhões de idosos
que hoje têm direito ao benefício. “Em valores nominais, caso a reforma seja
aprovada, um beneficiário idoso do BPC receberia até R$ 20.034 a menos do que
lhe seria devido pelas regras em vigência”.
E a tendência, prossegue a nota, é “atingir um número muito
maior nos próximos anos, em função das mudanças nas regras de acesso à
aposentadoria propostas pelo governo”, que dificultam o acesso de milhões de
trabalhadores.
E a redução do valor do benefício “implicará, para boa parte
desses idosos, a postergação do momento em que esperam deixar de trabalhar, uma
vez que muitos se verão compelidos a continuar na ativa até os 70 anos”.
Fonte: CUT
Via - Portal Vermelho
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