“Vamos mulheres, vamos para as ruas. Vamos buscar nossos
direitos, vamos lá, vamos gritar, vamos mulherada”, afirmou Elza sobre o 8 de
Março.
Por Paula Guimarães, Vanessa Pedro
No Portal Vermelho
Em sua estreia no programa de calouros de Ary Barroso, há
quase 70 anos, a cantora Elza Soares lançou uma frase que de tão inusitada e,
ao mesmo tempo política, ressoaria até hoje. Questionada de qual planeta ela
teria vindo, respondeu, ao vivo, na Rádio Tupi: “Do mesmo que o senhor, seu
Ary. Do planeta fome”. Às vésperas do Dia Internacional das Mulheres, Elza
concedeu entrevista ao Portal Catarinas, em Florianópolis, onde apresentou o
show da sua mais recente turnê, que se chama justamente Planeta Fome.
Lançado em 2019, este álbum é o título do 34º da cantora,
relembrando o início da carreira e atualizando o seu sentido de manifesto. Com
uma trajetória conectada à pauta do movimento feminista, a cantora deixou uma
mensagem às ativistas que constroem o 8M Greve Internacional das Mulheres,
nestes 8 e 9 de março.
“Vamos mulheres, vamos para as ruas. Vamos buscar nossos
direitos, vamos lá, vamos gritar, vamos mulherada”, bradou em apoio à Greve
Internacional das Mulheres que mobiliza manifestantes de vários países do mundo
nesta semana.
Além de sua trajetória inspirar e se aproximar do movimento
feminista, Elza Soares vem produzindo álbuns e shows nos últimos anos que falam
das mulheres e reivindicam protagonismo feminino. Antecederam Planeta Fome os
álbuns Deus é Mulher, em 2018, e a Mulher do Fim do Mundo, em 2015.
Desde então, Elza Soares se consolidou como uma das vozes
mais marcantes e importantes da música brasileira, sendo em 2016 reconhecida
com o Grammy Latino de Melhor Álbum MPB por A Mulher do Fim do Mundo (2015).
Neste ano ela foi homenageada pela escola de samba Mocidade
Independente de Padre Miguel, do Rio de Janeiro, com o enredo Elza Deusa
Soares, fazendo referência ao álbum de 2018, Deus é Mulher. Símbolo de
resistência, Elza é uma “deusa inspiradora” para muitas mulheres por carregar
em seu trabalho uma resposta potente às violências comuns à maioria das
brasileiras, sobreviventes do racismo, das desigualdades social e de gênero.
Ela também canta “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, em forte
referência e protesto ao racismo no Brasil.
Na época em que Elza decidiu cantar, aos 13 anos, depois de
ter casado, perdido um filho e ter o outro doente, achava que se tivesse
alimentos para ela e para os filhos, não teria mais fome. O tempo passou e Elza
diz que continua com fome, fome de cultura, de dignidade, de educação, de
igualdade. Elza percebeu que a fome só muda de cara, mas não tem fim.
A divulgação de seu show lembra que há sempre um vazio na
humanidade que a gente não consegue preencher e talvez seja essa mesma a razão
da nossa existência. E é disso que se trata “Planeta Fome”, é essa a história
que ela conta nesse álbum.
O show de “Planeta Fome” é tão forte quanto o álbum e tudo o
que está ao redor de sua criação. A começar pelo figurino de Elza, feito com
vários alfinetes remetendo à roupa que usava no dia do programa do Ary Barroso.
Leia a seguir a entrevista:
Catarinas: Você imaginava que se tornaria um símbolo para as
mulheres e para o movimento feminista hoje, que olham pra sua trajetória, para
as suas manifestações e para a sua arte e se identificam dizendo que você
contribui para a igualdade das mulheres?
Elza Soares: Acredito que eu seja uma dessas mulheres
também, batalho por elas e por mim.
Ao longo da sua carreira houve esse reconhecimento e essa
identificação ou isso é atual? Seus dois últimos álbuns se referiram às
mulheres (A Mulher do Fim do Mundo e Deus é Mulher). Você se aproximou dessa
questão ou as mulheres passaram a te ver mais nessa luta?
A visão da mulher para o mundo é que mudou e eu estou
acompanhando isso. Eu sou mulher, não sou trapo.
O que você diria sobre o Brasil de quando você respondeu,
aos 13 anos, na primeira vez que você cantou em público, que vinha do “planeta
fome” e do Brasil de hoje, quando você faz um show chamado “Planeta Fome”.
Planeta fome continua, não mudou nada, eu mudei, mas o
planeta continua o mesmo. Temos outras fomes: fome de respeito, fome de saúde,
fome de tudo, aliás, estamos com mais fome ainda.
O que você diria às mulheres que marcharam em Florianópolis
por seus direitos e por igualdade no dia 8 de março?
“Vamos mulheres, vamos para as ruas, eu só lamento não estar
com vocês. Vamos buscar nossos direitos, vamos lá, vamos gritar, vamos
mulherada”.
Fonte: Portal Catarinas
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