Preços do arroz dispararam- Foto: Image Party/Pixabay |
Os principais impactos foram nos
itens da alimentação no domicílio – arroz, carne, leite e óleo –, mas isso não
tem relação com o distanciamento social e sim com os altos preços no mercado
internacional, a desvalorização do real e o fim dos estoques reguladores.
Por Emilio Chernavsky
Na última quinta-feira (9), ao
comentar o aumento dos preços do arroz, o presidente Bolsonaro citou críticas
que recebeu por falar de “vírus e emprego” quando outros diziam “fique em casa
e a economia vem depois” . A relação que ele insinua entre as medidas de
distanciamento social e o aumento dos preços tem sido repetidamente evocada
para atacar opositores do presidente nas redes sociais frequentadas por seus
apoiadores. “Fique em casa” contra o vírus? “A conta chegou”.
Houve até “especialistas”
explicando os preços mais altos como resultado do aumento dos custos unitários
provocado pela redução das vendas na esteira das medidas de distanciamento.
Isso certamente ocorreu em setores e locais, mas estaria aí a explicação
central para o aumento do custo de vida no país que tem afetado especialmente
as famílias mais pobres?
Basta analisar a evolução dos
preços dos distintos itens desde o início da pandemia para facilmente constatar
que não. Os principais impactos ocorreram em itens da alimentação no domicílio
– arroz, carne, leite e óleo –, que respondem por grande parcela das despesas
das famílias, e são fornecidos por grandes complexos agroindustriais cujas
produção e vendas não só não caíram com o distanciamento social, mas cresceram
nos últimos meses. Como, aliás, declarou o próprio presidente, “o campo não
parou”.
De fato, não parou, e viu os
preços de seus produtos crescerem muito acima da inflação geral, em muitos
casos mais de 10% em apenas seis meses, gerando lucros elevados para os
produtores. Essa situação não tem nenhuma relação com o distanciamento social,
mas, sim, com os altos preços no mercado internacional, a desvalorização do
Real e o fim dos estoques reguladores no país.
Outros setores que registraram aumentos importantes de preços são o de cimento e de produtos eletrônicos que, assim como o de alimentos, ao invés de reduzirem, elevaram suas vendas desde o início da pandemia. Com efeito, parte do auxílio emergencial pago pelo governo foi direcionado a gastos atípicos nesses setores que, dominados por grandes oligopólios, conseguem aproveitar a expansão pontual na demanda para elevar os preços e aumentar suas margens.
Em compensação, os preços praticados justamente pelos setores mais afetados pelos aumentos de custos e da incerteza decorrentes das medidas de distanciamento, que em sua maioria atuam no setor de serviços prestados às famílias e que contam com grande participação de micro e pequenas empresas e de profissionais autônomos, não só não cresceram mais que o índice geral, como, em razão da queda da renda de parcela da população que normalmente usa esses serviços, em muitos casos caíram ou mesmo despencaram.
Ou seja, enquanto os setores que
mais aumentaram seus preços estão entre aqueles menos impactados pelas medidas
de distanciamento social, aqueles mais impactados não aumentaram ou até
reduziram seus preços. A relação entre o “fique em casa” e o aumento de preços
que tem pressionado o custo de vida dos mais pobres é, portanto, mentirosa.
Isso não impede que ela circule amplamente entre os apoiadores do presidente
como evidência de que ele “tinha razão”.
Fonte: Brasil Debate
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