Apesar do desemprego batendo em 14%, o governo reduziu pela metade o valor do auxílio emergencial e discute a volta da agenda de austeridade.
Por Mariana Branco
Enquanto o Brasil não conseguiu
sair da primeira onda da pandemia do novo coronavírus, países europeus que
reabriram suas economias após os casos baixarem vivem sob o temor das
consequências de uma segunda onda. A perspectiva de um novo lockdown assombra o
continente, principalmente devido às consequências econômicas para esses países,
cujos governos investiram pesado em medidas de estímulo à economia e proteção
ao emprego e à renda.
Na avaliação do economista Paulo
Kliass, as incertezas causadas pelo retorno do vírus à Europa servem como
alerta para o Brasil, que se comporta como se a pandemia já tivesse acabado.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirma que o pior já passou e aposta em uma recuperação em V. Apesar do desemprego batendo em 14%, o governo reduziu pela metade o valor do auxílio emergencial e discute a volta da agenda de austeridade sob a qual foi eleito em 2018.
“Eles estão querendo apostar que
a pandemia acabou e o Brasil pode voltar às suas atividades normais de 2019,
mas não é isso. A crise da Covid-19 continua. Se a gente for acompanhar a
segunda onda [no Brasil], com certeza vai ter os mesmos efeitos negativos. E
não vai ter para onde fugir. Se o governo já estava tendo resistência a adotar
medidas como o auxílio de R$ 600, gastos na área de saúde, medidas de alívio
tributário para as empresas, imagine fazer novamente”, diz Kliass.
Segundo ele, o país deveria
observar com atenção o exterior e usar o aprendizado dos últimos meses. Da
mesma forma que há recrudescimento de casos na Europa, o Brasil pode enfrentar
a segunda onda.
“Se você passa a ter uma segunda onda no Brasil, vai ter não só um agravamento do drama social, humano, da saúde, como também consequências de redução da atividade econômica. Isso compromete qualquer possibilidade de retomada”, avalia.
Além disso, o próprio retorno do
vírus a outros países é uma notícia ruim, uma vez que a economia global é
interligada. Se o Brasil já não vive um bom momento em relação a investimentos
estrangeiros, por exemplo, em razão das ações e omissões do governo Bolsonaro
na área ambiental, é menos factível ainda esperar investimentos caso as
economias europeias ou dos EUA estejam em crise.
Durante a conferência, organizada pelo Milken Institute, o ministro da Economia disse que o país vem sendo “mal interpretado” na questão ambiental e usou o tamanho do território como justificativa para a dificuldade em controlar as queimadas na floresta. Ele também pediu que os investidores aguardem a realização das reformas administrativa e tributária.
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