Nas plantas de Camaçari (BA) e Taubaté (SP), a linha de produção deixará de funcionar nesta terça (12).
Planta da Ford em Camaçari (BA) será a mais atingida com o encerramento da produção
Por André Cintra
Primeira montadora a se instalar
no Brasil – onde está presente desde 1919 –, a norte-americana Ford anunciou,
nesta segunda-feira (11), o encerramento de toda a produção de veículos e
motores no País. Há menos de dois anos, a empresa já havia fechado sua
tradicional fábrica de caminhões em São Bernardo do Campo (SP), no ABC
paulista. Agora, as três fábricas remanescentes da Ford serão desativadas.
Nas plantas de Camaçari (BA) e
Taubaté (SP), a linha de produção deixará de funcionar nesta terça (12) – a
maioria dos trabalhadores já foi comunicada da suspensão do contrato. A fábrica
da Troller, em Horizonte (CE), será fechada no quarto trimestre deste ano.
Segundo a Ford, estão previstas 5 mil demissões.
Em comunicado, a montadora alegou que o encerramento da produção ocorre “à medida que a pandemia de Covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas. A companhia manterá no Brasil a sede administrativa da América do Sul, o Centro de Desenvolvimento de Produto e o Campo de Provas”.
Embora a realidade descrita seja
válida para toda a América do Sul, a Ford não fechará suas fábricas na
Argentina e no Uruguai – o que revela sua falta de perspectiva com o Brasil. De
1999 a 2020, conforme estimativas da Receita Federal reveladas pelo jornal O
Globo, a montadora recebeu cerca de R$ 20 bilhões em incentivos fiscais dos
governos FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro.
Mesmo com o apoio de todos os
governantes, a Ford não fazia nenhum investimento de peso no País desde 2011.
Já em 2019, num sinal emblemático de sua crise, a montadora fechou a histórica
fábrica de caminhões de São Bernardo. Essa planta, a mais antiga da montadora
em operação no Brasil, produzia veículos Ford fazia 52 anos e empregava 2.800
trabalhadores.
Nos últimos anos, a Ford caiu da quarta para a sexta colocação em vendas de veículos no mercado brasileiro. Entre 2019 e 2020, por exemplo, o tombo em número de unidades vendidas foi de 39,7%, segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Com a pandemia, trabalhadores da
planta de Camaçari permaneceram por meses com o contrato de trabalho suspenso
(layoff). A falta de projetos alternativos para sua principal fábrica levou a
Ford a propor, em setembro de 2020, um Programa de Demissão Voluntária (PDV). O
ponto culminante da derrocada da montadora é o fechamento, agora, de todas as
fábricas.
Sindicatos protestam
No comunicado à imprensa, a montadora declarou que vai atuar “em estreita colaboração” com os sindicatos e outras partes interessadas, para desenvolver um plano “equitativo e equilibrado”, que “minimize os impactos do encerramento da produção”. As entidades, porém, criticam duramente a decisão intempestiva da Ford, que se limitou a informar as direções sindicais em reunião de emergência na tarde desta segunda. Na conversa, Lyle Watters, presidente da Ford na América do Sul, afirmou que a decisão partia da matriz norte-americana e era irreversível.
Em Camaçari, o complexo Ford –
que produz os modelos EcoSport e Ka – emprega cerca de 12 mil trabalhadores,
somando montadora e fornecedoras. A ampla maioria deles tem carteira assinada e
dezenas de direitos, fruto das lutas lideradas pelo Sindicato dos Metalúrgicos
de Camaçari. A partir desta terça, porém, milhares já estarão desempregados.
“Fomos pegos de surpresa”, disse
Júlio Bonfim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, que é
filiado à CTB. “Na reunião de hoje, eles afirmaram que não têm interesse em
continuar no Brasil. Estamos num momento gravíssimo para a economia do País e
mais grave ainda para a nossa região metropolitana.”
A categoria fará uma assembleia na porta da Ford Camaçari nesta terça (12), às 5h30. “É um momento de sobrevivência, e precisamos da unidade dos trabalhadores para encontrar uma solução”, enfatiza Júlio. Após a assembleia, os metalúrgicos sairão em passeata até o centro da cidade baiana, na região metropolitana de Salvador (BA). Para pressionar a Ford, o Sindicato cobrou o prefeito de Camaçari, Elinaldo (DEM), bem como o governador da Bahia, Rui Costa (PT).
Taubaté
O Sindicato dos Metalúrgicos de
Taubaté (Sindmetau), filiado à CUT, fez uma assembleia na tarde desta segunda e
convocou outra para as 8 horas desta terça. Dos cerca de 1.650 trabalhadores da
fábrica de motores da Ford na cidade, 830 foram demitidos.
A Prefeitura de Taubaté lamentou o fechamento da fábrica: “A crise econômica mundial tem reflexos na cidade, mas não podemos arcar com tal monta de prejuízo. Todos os trabalhadores desligados receberão o apoio necessário da administração municipal. Ainda nesta semana, o Executivo terá reuniões com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos e do governo do estado para buscar alternativas”.
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