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Os patos
Fomos fazer um show em Jardim
(CE), em 1984, 1985, por aí. Era um show filantrópico, uma parceira com a igreja
do padre Adauto, Vigário da cidade.
O dinheiro ia ser dividido metade
para a gente e metade para as crianças do orfanato. Ele tinha ido com uma
caminhoneta e apareceu carregado de rapadura, que ia levar para os meninos de
Exu. Na hora de se apresentar, ele chegou por trás de mim, cochichou do meu
ouvido:
“Tem pouca gente, né? Não receba
nada do padre não”.
E fez o show, artista de grande
valor como era ele. Os artistas da mídia nem fazem shows desses tipo. Nem vão
nas cidades pequenas, com o sentido de ajudar um orfanato. No dia seguinte, o
padre achava que ele ainda estava na cidade e chamou para tomar café da manhã,
mas Seu Luiz já tinha ido embora.
- Não, ele não foi embora. A
carrada de rapadura ainda está aqui. Mais tarde vem buscar.
- A rapadura é sua, padre, para o
senhor dar para os seus meninos. Também disse para fazer o mesmo com o
dinheiro.
- Não é possível! Mas, e você?
- Não, obrigado. Eu não como
dinheiro não.
- E os músicos?
- Se ele não aceitou, os músicos
também não vão aceitar não… Então, para eu não sair daqui sem nada, me dê esse
casal de patos.
Aí deixei os patos na fazenda de
Seu Luiz, para se criarem. Quando eu lembrei dos patos e fui lá pegar, ele já
tinha comido os bichos.
- Mas Seu Luiz, eram os meus
patos…
- Mas o açude é meu. - dizia ele.
- Mas não tava acertado que a
gente ia criar os patos na meia [dividindo pela metade]?
- Meia eu não vi meia não, senhor. Só comi os patos - ele me disse.
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