"Questionar não é uma atitude estimulada nos militares.
Ao contrário, o questionamento é mal visto e interpretado como insubordinação,
um crime grave no regulamento disciplinar, uma ameaça à hierarquia e à
organização militar. Eu mesmo cheguei a pegar uma prisão disciplinar (chamada
de "educativa", sem registro em boletim, uma "camaradagem"
do "superior" que puna, evitando o registro na ficha) por ter
insistido numa pergunta simples: por quê? Quando o tenente falou "você não
tem nada que perguntar por quê!" eu repliquei, "ah, não? E por
quê?" Fui recolhido ao xadrez, "dormi" uma noite infernal entre
mosquitos. No dia seguinte, o tenente, com ar compassivo, veio me explicar que
eu não podia fazer aquilo, era um mau exemplo pros demais, a força militar
dependia da disciplina pra ser eficiente e tal e coisa... Eu contava com uma
posição privilegiada, era atleta e medalhista, havia ganhado um troféu pra
unidade e tinha uma espécie de "proteção" dos superiores, que me
tratavam cheios de condescendência. Mas sem exagerar, eu não podia violar as
regras daquela maneira, não fosse o atleta que era e estaria com a ficha suja.
Até o dia em que declarei que não iria mais competir, não tinha mais prazer na
vitória, diante da tristeza dos derrotados. Aí acabou a regalia e começou a
perseguição. Mas eu já tava próximo de pedir desligamento e perder minhas
saídas, detido no quartel por pretextos que antes não existiam - cinto sujo,
sapatos mal engraxado, uniforme mal passado, cabelo grande, barba mal feita,
mexendo em forma, etc, etc...- me deram tempo pra refletir, analisar e concluir
que ali, definitivamente, não era o meu lugar."
Por Eduardo Marinho via Uma outra Opinião
Por Eduardo Marinho via Uma outra Opinião
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