Joseli Mendonça, organizadora da obra “Paraná Insurgente”,
conversou com os acampados no bairro Santa Cândida.
Três historiadores encararam os 300 quilômetros que separam
Florianópolis-SC e Curitiba-PR para se somar ao acampamento Lula Livre na manhã
deste domingo (15). Bernardo Joffily, Beatriz Mamigonian e Mariana Joffily
deixaram de lado os compromissos acadêmicos, prestaram solidariedade ao
ex-presidente e, de quebra, participaram do lançamento do livro “Paraná
Insurgente”.
Bernardo, jornalista e historiador autodidata, ressalta a
importância da resistência popular à prisão de Lula. “Este é, de fato, um
momento histórico, que nossos bisnetos vão estudar na escola. É um momento
difícil, mas prenhe de esperança, de mudança, de transformação profunda para o
nosso povo”, afirma.
A filha dele, Mariana, é professora da Universidade do
Estado de Santa Catarina (Udesc) e pesquisa a história da América Latina. Por
isso, está acostumada com as ameaças à democracia no Brasil e emocionada por testemunhar
a resistência da classe trabalhadora.
“Estamos vivendo um momento que é único, cujos
desdobramentos não podemos prever, mas podemos filiar esse momento de várias
maneiras a acontecimentos do passado”, analisa Mariana. “Tanto à tradição das
lutas de resistência na América Latina, essa região tão oprimida pelo
colonialismo e pelo imperialismo, como também às matrizes do golpe de 2016.
Nossa democracia sempre foi limitada, e as elites sempre tiveram muito cuidado
em impedir que ela não se expandisse, de fato”.
Beatriz Mamigonian pesquisa a história do século XIX e
leciona na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Na interpretação
dela, é possível estabelecer pontes entre a herança escravista e o
posicionamento da classe dominante no contexto do golpe e da perseguição a
Lula: “Todos os grandes líderes da história foram seguidos por multidões quando
foram presos e condenados injustamente”, acrescenta. “Com Lula, não foi
diferente, e por isso presto solidariedade a ele. Mas, ao mesmo tempo, o acampamento
é um espaço de articulação e discussão de futuro”, enfatiza.
Paraná Insurgente
As professoras da Udesc e da UFSC fazem parte de um grupo
chamado Historiadores pela Democracia, criado em março de 2016, na iminência do
golpe parlamentar contra Dilma Rousseff. O grupo organizou, também neste
domingo (15), em pleno acampamento, o lançamento do livro “Paraná Insurgente”,
organizado pelos historiadores Joseli Mendonça e Jhonatan Souza, sobre as lutas
populares no estado desde o século XVIII.
Joseli conversou com os acampados e disse que o Paraná não
pode ser resumido como um estado conservador. Sob os aplausos dos apoiadores de
Lula, ela citou como exemplo de resistência a Guerrilha de Porecatu, em 1950, e
as ocupações de escolas públicas pelos estudantes secundaristas em 2016.
Conforme a história acontece, “à queima-roupa”,
pesquisadores de todo Brasil demonstram que não estão presos no passado ou
indiferentes às lutas presente. A Associação Nacional de História (ANPUH)
publicou uma nota sobre a prisão de Lula e reafirmou: “É por acreditarmos na
preservação e consolidação da democracia que nos solidarizamos hoje com Lula,
vítima do arbítrio daqueles que não toleram o livre jogo do mercado político”.
Edição: Ednubia Ghisi
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