A ideia que a mídia oficialista tem de turista americano é a
de um loiro alto, protestante, de cuca fresca, pronto para gastar aqui seu
cartão de crédito. Mas 60 milhões de americanos tem outro perfil. São
iraniano-americanos, saudita-americanos, cubano-americanos, indu-americanos,
vietnamita-americanos, coreano-americanos, chineses de San Francisco, que
poderão entrar no Brasil sem visto.
Por incrível que pareça, existem também bandidos com
passaporte americano, contrabandistas de Miami, cafetões de Las Vegas,
traficantes de armas e de drogas químicas, estelionatários, mafiosos de
Chicago.
O Brasil tem histórica fama de refúgio de bandidos, que
agora será revigorada pela desnecessidade de visto de entrada para nacionais de
alguns grandes países, a começar pelos EUA, onde não há só gente honesta, há de
tudo, apesar da idolatria que ignorantes fazem dos EUA, terra do faroeste e da
máfia.
Nos anos 50, Cuba passou a receber turistas americanos em
grande quantidade, virou o paraíso dos cassinos e da prostituição, um turismo
predatório, que foi um dos ingredientes da revolução castrista. Há uma certa
visão romântica, simplória, do turismo de massa mas há que analisar prós e
contras.
O Brasil deveria ter enorme apelo turístico, mas faltam
certas condições que são pré-requisitos para um paés de grande atração para
visitantes:
1. Sistemas de orientação e atendimento em aeroportos,
rodoviárias, pontos turísticos. Os quiosques de turismo em aeroportos operam em
ritmo de repartição pública, há atendentes que a cada meia hora desaparecem
para tomar café, voltando duas horas depois.
2. Museus desaparelhados para atender visitantes
estrangeiros. Parques sem nenhuma estrutura, sem banheiros limpos, cafés ,
lojas de souvenires.
3. Notória falta de segurança. No caminho do Corcovado, por
exemplo, há turistas que querem andar a pé, os assaltos são diários.
4. As cidades litorâneas não tem barcos de passeio, os rios
quando tem barcos são precários. Praias em geral poluídas. Trens turísticos são
pouquíssimos e esse meio de transporte tem grande apelo para se conhecer um
País ou região, vide os magníficos trens turísticos da Africa do Sul e
Austrália.
5. O País, os Estados e as Prefeituras têm Ministérios e
Secretarias de Turismo que não tem programas, projetos, são meros cabides de
emprego.
6. Faltam guias em línguas estrangeiras nas atrações
turísticas, museus e parques. Faltam sinalizações em inglês nas grandes
cidades.
O mercado turístico do futuro é o ecológico, o Brasil seria
o grande beneficiário, mas faltam condições básicas, algumas bem simples.
Dispensar vistos por si só não significa grande coisa para
incrementar turismo, há muito mais fatores, mas esses dão trabalho para
implementar.
O Brasil é o único grande Pais do mundo que não faz
campanhas de mídia para divulgar o Pais no exterior, o México é campeão em
belas campanhas, países ícones do turismo, como França e Espanha, fazem
continuamente campanhas de divulgação, os Estados alemães como a Bavieira fazem
suas próprias campanhas de divulgação nos EUA, o mercado turístico é altamente
competitivo e é preciso disputa-lo continuamente.
Relato aqui um fato de que participei há cinco anos. Uma das
maiores agências de publicidade dos EUA, que faz campanhas para o México,
preparou um projeto para divulgação do turismo para o Brasil nos EUA.
Acompanhei os executivos da agência nos órgãos federais que
tratam de turismo. Nem quiseram ver, alegaram falta de verba. Na maioria dos
países, as entidades associativas empresariais também patrocinam campanhas de
divulgação, o turismo traz benefícios para o comércio em geral, para hotéis,
bares, restaurantes, casas de shows.
Procurei a Confederação Nacional do Comércio, que também
cuida de turismo, não passei da telefonista. A mesma Confederação, que tem sede
nacional em Brasília acaba de gastar 26 milhões de reais para comprar dois
apartamentos de luxo em Ipanema para seu presidente e diretor financeiro quando
vem ao Rio. O fato saiu nos jornais há quinze dias, dinheiro arrecadado por
contribuição parafiscal usado em benefício privado.
A campanha para divulgação turística do Brasil nos EUA custaria
menos do que isso. Realmente aumentar o turismo no Brasil precisa muito mais do
que eliminar o visto.
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