Sem renda emergencial, pobreza atingiria 30% da população,
revela estudo da Rede de Pesquisa Solidária.
Pela primeira vez na história, o nível de ocupação no
emprego entre março e abril ficou abaixo de 50%, ou seja, mais pessoas estavam
sem trabalho do que trabalhando em todo o País, segundo a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD-Covid) do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), revela nota técnica da Rede de Pesquisa Solidária sobre o
efeito da pandemia de covid-19 no emprego e renda dos brasileiros. O
levantamento detectou que 75% da queda das horas trabalhadas no Brasil se devem
à suspensão de contratos e à redução da jornada. Os outros 25% decorrem da
inatividade.
A pandemia mudou o modo de avaliar o desempenho do mercado
de trabalho. Segundo os resultados da pesquisa emergencial do IBGE, a
PNAD-Covid, a taxa de desemprego no mês de maio se manteve na casa dos 10%, um
resultado contraintuitivo, pois é inferior aos 12,6% registrados no primeiro do
ano pela PNAD Contínua. Como entender esse resultado, em contexto de retração
econômica?
A noção de “desemprego” supõe que as pessoas estejam
ativamente procurando emprego. Ocorre que as políticas de distanciamento
social, necessárias à contenção da propagação do coronavírus, reduziram
drasticamente as possibilidades de procura – tanto pela inviabilidade de
fazê-lo presencialmente, quanto pela indisponibilidade de oferta nas
localidades, em função do baixo desempenho das empresas. Pessoas que, em outro
contexto, seriam demandantes de emprego, são forçosamente classificados como
“economicamente inativos”, dado que a taxa de desemprego aberto contabiliza
apenas pessoas que abertamente procuram inserção.
Outras conclusões do estudo são:
A Rede de Pesquisa Solidária detectou que 75% da queda das
horas trabalhadas no Brasil se devem à suspensão de contratos e à redução da
jornada. Os outros 25% decorrem da inatividade.
O crédito anunciado pelo governo federal não chegou às
empresas e limitou o potencial da MP 936, cujo gasto previsto atingiu apenas ¼
do estimado inicialmente.
Boa parte dos trabalhadores desligados ficou excluída do
Seguro Desemprego e sem acesso à renda compensatória por não cumprirem os
requisitos definidos pelo governo.
A combinação da ineficácia do crédito, desemprego e falta de
acesso ao auxílio emergencial foi responsável pela falta de efetividade da MP
936 e se expressou na brusca queda da renda.
A renda média das famílias brasileiras caiu R$ 250,
principalmente por conta da queda da renda do trabalho. Sem a Renda Básica
Emergencial, essa queda teria sido 40% maior (R$350)
Sem o auxílio emergencial de R$600,00 a taxa de pobreza
teria saltado para 30% da população.
A inserção no mercado de trabalho se guia pelas condições
socioeconômicas dos indivíduos. Tanto o desemprego oculto pelo distanciamento
social como o desemprego aberto atingem de forma desproporcional os mais
pobres. As pessoas ocupadas e que trabalham presencialmente concentram-se
principalmente nos estratos médios. Aos mais ricos, abre-se a possibilidade de
exercerem suas atividades à distância (teletrabalho/home-office).
Quatro categorias compõem a Força de Trabalho Ampliada:
desemprego aberto, desemprego oculto, trabalho presencial e trabalho à
distância.
O gráfico abaixo apresenta sua distribuição dentro de cada
estrato da renda domiciliar per capita.
A produção da nota, que pode ser lida na íntegra aqui, foi
coordenada por Ian Prates, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
(Cebrap) e Rogério Jerônimo Barbosa, do Centro de Estudos da Metrópole (CEM).
Participaram do levantamento os pesquisadores Thiago Meireles (USP), Vitor
Menezes (USP), Sergio Simoni (UFRGS), Paulo Flores (USP/CEM), Eduardo Lazzari
(USP/CEM), Hellen Guicheney (CEM), Carolina Requena(CEM), Heloisa Fimiani (USP)
e João Lucas Oliveira (USP).
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