“Perseguição a Evo mostra que a Bolívia é um Estado
policial”, dizem advogados.
Ao formalizar a acusação contra o ex-presidente Evo Morales
(2006-2019) por supostos crimes de terrorismo e solicitar sua prisão
preventiva, o Ministério Público da Bolívia demonstrou uma vez mais, nesta
segunda-feira (6), que o país “é um Estado de não-direito, no qual rege a força
bruta”, em que “a imputação constitui a enésima evidência do Estado policial”.
A resposta é dos advogados Raúl Gustavo Ferreira e Raúl
Zafaroni, desde Buenos Aires, onde Evo se encontra como refugiado político da
autoproclamada Jeanine Áñez, colocada na presidência por forças militares com o
apoio da Embaixada dos Estados Unidos em novembro do ano passado.
A acusação contra o ex-presidente é “pelos delitos de
terrorismo e financiamento ao terrorismo por supostamente ter coordenado” com
um líder plantador de coca, por telefone, “o bloqueio alimentar e o cerco das
capitais bolivianas durante os conflitos de 2019”.
Conforme esclarecem os advogados, “as provas não existem, a
acusação é um disparate, igual ao pedido de detenção. Não há acusação criminal
alguma que deva incriminar o ex-presidente, nosso defendido”. O fato,
sulinharam, “é que Evo luta pela recuperação do Estado constitucional e da
democracia”.
Para o presidente deposto, se trata de uma medida ilegal e
inconstitucional, “em que me acusam com um áudio alterado do qual não fui
sequer notificado, mais uma prova da perseguição política sistemática do
governo golpista”.
Exemplo vivo do que representa o governo Áñez enquanto
negação dos direitos humanos, a advogada do ex-presidente, Patricia Hermosa,
presa ilegalmente sob a acusação de “terrorismo, sedição e financiamento do
terrorismo”, tem denunciado a chantagem feita pelo Ministério Público, que
busca arrancar dela declarações em troca da liberdade. Grávida, Patrícia sofreu
com sangramentos ao longo de dez dias no mês de março sem receber qualquer
auxílio. Teve a visita de um médico em maio. Perdeu o bebê.
“Estratégia midiática”
Na avaliação do pesquisador e cientista social Porfirio
Cochi, “derrotada em sua tentativa de perpetuar-se no poder e ser obrigada a
convocar as eleições para 6 de setembro, imediatamente Jeanine Áñez adotou uma
estratégia midiática para se contrapor ao crescimento da intenção de voto em
Luis Arce e David Choquehuanca, do Movimento Ao Socialismo (MAS)”.
“No dia seguinte já começaram a divulgar amplamente nos
meios de comunicação supostas denúncias vinculando o MAS a ações de terrorismo
e convulsão social. Não é casual que, logo em seguida, em vez de aportar
recursos para combater o covid-19 e salvar vidas, o governo tenha aprovado um
decreto destinando milhões para os Ministérios do Interior e da Defesa,
injetando recursos em armamentos e equipamentos como gases para reprimir
manifestantes”, frisou Porfirio.
Mesma tecla
Esta é a segunda vez que a “Justiça” do governo interino
solicita que Evo seja encarcerado. Em dezembro, foi pedida a prisão por
“sedição e terrorismo” pelos mesmos supostos crimes, mas o processo não andou.
Em fevereiro foi aberto outro processo por suposta fraude
eleitoral, o que também serviu apenas para que a imprensa – completamente
controlada pelo governo – multiplicasse manchetes e esbravejasse via rádio e
televisão contra o ex-presidente e o MAS.
Por mais risível que possa parecer, a acusação atual se
baseia em “perícias realizadas na Colômbia”, reconhecidamente um laboratório de
mentiras a serviço dos interesses estadunidenses. “As mostras têm uma alta
probabilidade de identificação da voz do senhor Evo Morales Ayma”, segundo o
comunicado.
A última pesquisa de intenção de voto, realizada em março,
coloca o candidato do MAS, o ex-ministro Luis Arce Catacora, com 33,3%, contra
18,3% do ex-presidente Carlos Mesa e 16,9% de Áñez.
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