Por Emerson Monteiro – No Blog do Crato
Sentar o juízo e ficar só aqui
escutando o ciciado das cigarras no escuro da floresta. Deixar de lado irreais
preocupações desses tempos e permitir que a natureza converse consigo, decisão
mais acertada, sem outra que seja senão deixar que as normas dos céus envolvam
o chão neste momento. Ouvir o silêncio das horas lá de dentro dos sentidos
atrás dos pensamentos, qual jeito de mergulhar nos sobressaltos e garrotear as
ilusões. A gente com a gente mesma, pedaços iguais do mistério das horas em
movimento. Nós, enfim, esses escravos senhores dos sóis, o que vem sendo assim
desde sempre, quando ninguém seria capaz de aventurar a sorte na roleta dos
destinos.
Enquanto isto, as portas do
espaço se abrem às falas que nascem dos ares em festa, dos bichos, das matas,
do calor do meio dia, das dores e das movimentações dos humanos cá de fora.
Todos tendo uma razão parcial de continuar, e continuar, senhores da indecisão.
Águas incontidas nas criaturas que percorrem o teto da vontade, instintos de
viver solidão por vezes preenchida de longas histórias esquecidas. Gotas
suaves, pois, de tantas alegrias atiradas às fogueiras do sonho, porém certas
de um quase nada de saber porquê.
Elas, as cigarras, são tais
avisos da hora aos mistérios deste sacrifício de tantos autores, sonoras
parceiras do amor no coração, toques intermitentes do ritmo e das cores, nisso
tudo. Uns padecem horrores diante dos passos que dão a caminho de depois;
outros apenas dormem felizes ao prazer do anonimato do que virá sem dúvida.
Senhores dos no entanto, sacodem
assim os braços face aos desejos por mais alimento e sofrem as dores do parto
da indecisão, inocentes da certeza e dos amores, puros e aparentemente
libertos, vítimas das próprias vilezas.
De entremeio, sabiás ponteiam a sinfonia do início de tarde e trinam quais cigarras, numa composição inesquecível de viver a vontade imensa de achar paz que em tudo existirá, afinal.
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