Por José Luís Lira (*)
Há 44 anos, o Petit Trianon se
engalanava para receber sua primeira imortal, Rachel de Queiroz. Os que
presenciaram disseram ter sido um grande acontecimento. A bateria da Escola de
Samba Beija-Flor e a torcida do Vasco da Gama tomavam conta da Presidente
Wilson, centro do Rio de Janeiro, eterna capital cultural do País, a Cidade
Maravilhosa.
Os jornais de todo o Brasil e
revistas destacaram a posse de Rachel. Relato de uma pessoa presente à
solenidade dizia que pouco depois das 20h40min daquele 4 de novembro de 1977,
Rachel levantou os óculos, enxugou uma lágrima e assinou o livro de posse da Academia
Brasileira de Letras. O tabu estava quebrado. Uma mulher se tornou imortal. O
jornal Hoje da Rede Globo de Televisão anunciava dia 5 de novembro de 1977:
“Com voz firme, demonstrando que se preparou muito tempo para aquele momento,
Rachel de Queiroz tomou posse ontem na cadeira n° 5, da Academia Brasileira de
Letras”.
Rachel foi a maior romancista de sua geração.
Considero-a o maior escritor, mas, talvez me faça suspeito, pelo amor e
bem-querer que sempre tive por ela. Aos poucos, adentrei seu mundo e me tornei
seu amigo, afilhado de formatura. Vinte e seis anos depois daquele 4 de
novembro de 1977, no dia 4 de novembro de 2003, Rachel saia pela última vez do
Petit Trianon, dessa vez para o Cemitério São João Batista, não para o Mausoléu
da ABL, mas, para ficar junto com seu grande amor, Oyama de Macêdo e hoje lá
estão seu cunhado, Namir e sua querida irmã-filha Maria Luíza de Queiroz Salek,
a Isinha.
Já falei muito sobre Rachel de
Queiroz e ainda falarei, enquanto eu durar, porém, este ano foi o 18° de seu
falecimento e como digo sempre, a saudade ainda é frequente e para acalentá-la,
vez por outra, pego um de seus livros, seus romances. Mas, nada se compara a
ouvi-la, ter sua opinião, no entanto, passados exatos 18 anos, posso afirmar
que ela cumpriu – e muito bem – sua missão. Abriu a Academia para as mulheres
mesmo antes que a Academia Francesa – que serve de modelo às demais – elegesse
Marguerite Yourcenar; firmou o romance regional na Literatura. Foi um ser
humano extraordinário.
Pois 44 anos depois da posse de Rachel, a Academia anuncia: “Realiza-se no dia 04 de novembro a eleição para a Cadeira nº 17, vaga com o falecimento do Acadêmico Affonso
Arinos de Mello Franco. Para esta
Cadeira, encontra-se inscrita a Senhora Fernanda Montenegro”.
Conheci, pessoalmente, dona
Fernanda Montenegro no dia dos 90 anos de Rachel de Queiroz. Simples,
autêntica, admirável. Depois a vida vai pontuando as ocasiões. E nós
costumávamos dizer que Rachel de Queiroz era a grande dama da Literatura e
dizemos que Fernanda Montenegro é a grande dama do cinema e da dramaturgia do
Brasil. São duas grandes damas, envolvidas pela amizade e pela arte. E a
Academia sempre elege notáveis.
Fernanda Montenegro é notável.
Por toda uma vida dedicada à arte, primeira latino-americana e a única
brasileira indicada ao Oscar de Melhor Atriz; única atriz indicada ao Oscar por
uma atuação em língua portuguesa e autora da autobiografia Prólogo, ato,
epílogo.
Fernanda e os tantos nomes que
recebeu em mais de 70 anos de arte, é eleita para a Casa do Bruxo do Cosme
Velho, Machado de Assis, com os aplausos de uma Nação.
Vida longa à nova imortal!
(*) José Luís Lira é advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina) e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É Jornalista profissional. Historiador e memorialista com 26 livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais brasileiras.
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