Rafagnin: "Temos inúmeras possibilidades de quebrar com esse fluxo de violência e de desigualdades estruturais". Foto: Divulgação
”Temos de incorporar às nossas
ambições de evolução da sociedade o compromisso de homens para barrar os
retrocessos e o avanço desenfreado e reativo da violência contra as mulheres”,
aponta Rafagnin.
PT Nacional
Incorporamos no calendário de
lutas e de organização das mulheres, em seus diferentes espaços de atuação, as
reflexões e mobilizações do 8 de março, dia internacional da mulher, que são
necessárias e importantes para a conscientização coletiva e para a transformação
da realidade, muito a partir do resgate histórico do ativismo de tantas e
tantas mulheres, antes de nós, que construíram com resistente bravura as bases
dos direitos, das conquistas e dos avanços sociais que temos hoje.
Isso precisa continuar, sem
dúvida, no sentido de aumentar a visibilidade e o protagonismo das mulheres, só
que temos de incorporar também às nossas metas e ambições de evolução da
sociedade a conscientização e o compromisso de homens para barrar os
retrocessos e o avanço desenfreado e reativo da violência contra as mulheres.
É papel também nosso e daqueles
companheiros conscientes e comprometidos com a erradicação de todas as formas
de violência de gênero e de violência contra as mulheres a chamada de atenção
para a violação de direitos humanos, o aconselhamento, a denúncia e a
responsabilização de quem ainda insiste em reproduzir as relações desiguais,
discriminatórias e misóginas da cultura machista e do patriarcado.
Essa reprodução bate
indistintamente na porta de todos e precisamos lembrar os companheiros homens
que são pais, filhos, irmãos, amigos, colegas de trabalho, maridos e namorados
de outras mulheres os riscos embutidos na perpetuação desse mal e desse atraso
bárbaro do desrespeito e das violências.
Uma das formas mais cruéis e
invisíveis é pela banalização, que, por sua vez, se sustenta na impunidade e na
omissão.
Não se trata apenas de denunciar, mas de assumir a responsabilidade de estancar a semente dessa violência no momento em que o melhor amigo, parente, conhecido faz aquela piadinha
ou comentário nojento, quando
julga ou ofende uma mulher pelo que ela veste, como se apresenta, quando se
acha no direito de importunar, quando critica ou interrompe uma colega de
trabalho pelos mesmos motivos que não calaria ou questionaria um colega homem
ou ainda quando ouve o vizinho, familiar, desconhecido na rua ofender e até
desrespeitar e agredir a companheira, sem se incomodar com isso.
Temos inúmeras possibilidades de quebrar com esse fluxo de violência e de desigualdades estruturais e não é vergonha se manifestar quando a oportunidade se impõe à nossa frente, muito pelo contrário.
A banalização ou ostentação
chegou ao ponto de uma figura pública, na última semana, se referir às mulheres
ucranianas, vítimas e refugiadas da guerra em seu país, como “fáceis” de serem
violadas por serem “pobres”.
O fato do noticiário repercutir
essa postura abominável, por se tratar de algo que aconteceu, não choca tanto
quanto imaginar a aceitação desse pensamento nefasto por inúmeras pessoas que
comentam aberta ou anonimamente nas redes sociais em defesa desse crime,
aumentando sua espetacularização.
Pior, trata-se de um candidato a
cargo público de grande responsabilidade institucional, que pretende ter nas
mãos o comando das políticas, inclusive as de segurança pública, do seu estado.
Nesta pandemia, ficou evidente o
perigo de a sociedade permitir que pessoas com tamanha perversidade detenham o
poder público de ditar comportamentos sociais.
Milhares de pessoas tiveram suas vidas ceifadas pelo descaso, pela ignorância, irresponsabilidade e pela confusão instaurados.
As mulheres, em 2018, lideraram
uma grande mobilização para protestar diante do iminente perigo. Muitos homens
também se somaram nessa corrente, mas não foi o suficiente.
Neste último final de semana,
como se repete no país todo, mais uma mulher foi morta em episódio hediondo de
violência doméstica e familiar em Francisco Beltrão.
O crime ainda é objeto de
apuração das autoridades, mas já engrossa as estatísticas que colocam o Brasil
no vergonhoso 5° lugar no ranking de feminicídios no mundo.
Segundo o Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Direitos Humanos, em 2020, houve um aumento de 22% nesses
crimes e, no primeiro semestre do ano passado, o Brasil atingiu o maior patamar
desde 2017, com cerca de quatro feminicídios por dia em média.
Temos, portanto, uma figura
pública que encontra na pobreza o ambiente permissivo e facilitado para a
prática do crime sexual e, isso, num país em que 20 milhões de pessoas passam
fome e 117 milhões sofrem algum tipo de insegurança alimentar.
Vamos precisar de toda reação
possível diante da banalização desse discurso, somar todos os esforços e
consciências de homens e de mulheres, que buscam mudar a seguinte realidade:
uma mulher é vítima de estupro a cada dez minutos, cerca de 100 feminicídios
ocorrem por mês no país, uma travesti ou mulher trans é assassinada a cada dois
dias no Brasil e em que 30 mulheres sofrem agressão física por hora.
Por isso, precisamos juntar
forças com todas as pessoas cientes da sua responsabilidade de respeitar e de
ensinar o respeito às mulheres para ampliar essa conversa, essa luta e essa
conscientização.
Vamos fazer uma onda
transformadora que começa no menor gesto e na grande ação individual de
manifestar simplesmente: “Basta! Isso acaba aqui”!
* Luciana Rafagnin é agricultora familiar, cientista política e deputada estadual pelo PT do Paraná.
Via - Viomundo
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