A dupla Gustavo Petro e Francia
Márquez tomou posse neste domingo (7) para governar a Colômbia pelos próximos
quatro anos - Juan Barreto / AFP
Apoiado pelo Congresso, primeiro governo de esquerda do país quer paz com Venezuela e reforma agrária
Michele de Mello
Gustavo Petro e Francia Márquez
assumem a presidência da Colômbia. A cerimônia de posse também marca o
aniversário de 203 anos da Batalha de Boyacá, que marca a independência do
país. Após vencer as eleições no segundo turno, em 19 de junho, esta é a
primeira vez que uma coalizão de centro-esquerda chega ao poder na história
colombiana.
Entre as medidas já anunciadas
pela dupla está a retomada de relações diplomáticas com a Venezuela e a
reabertura de fronteiras; o reinício de negociações de paz com o Exército de
Libertação Nacional (ELN), maior guerrilha ativa do país.
A implementação integral dos
Acordos de Paz de 2016 é uma das principais bandeiras do novo governo. Com
maioria no Congresso, Petro e Francia também prometem levar adiante projetos de
reforma agrária, tributária e nas estruturas de segurança do Estado, como uma
resposta às demandas dos setores mobilizados em 2021 na maior greve geral da
história do país.
Cerimônia de posse
O ato de passagem da presidência
aconteceu na Praça Bolívar, centro da capital Bogotá, onde também fica
localizada a sede do Executivo e da Assembleia Nacional colombiana. Entre os
chefes de Estado confirmados no evento estão o chileno Gabriel Boric, o
argentino Alberto Fernández, o equatoriano Guillermo Lasso, o paraguaio Mario
Abdo Benitez, o boliviano Luis Arce, assim como o dominicano Luis Abinader e o
panamenho, Laurentino Cortizo. A presidenta hondurenha Xiomara Castro também
viajará a Bogotá.
Já o presidente do Peru, Pedro
Castillo, foi convidado, mas foi impedido pela justiça de seu país de viajar
para o exterior, pois está sendo investigado pelo Ministério Público. A
vice-presidenta, Dina Boluarte representará o governo peruano na posse.
O Brasil foi representado pelo
ministro das Relações Exteriores, Carlos França. A vitória desqueridsta foi
críticada por Jair Bolsonaro (PL), que disse que Petro, assim como Lula, iria
"soltar todos os meninos presos". O candidato à deputado federal
Guilherme Boulos (PSOL) foi convidado.
Os Estados Unidos enviou uma
comitiva liderada pela presidenta da Agência para o Desenvolvimento
Internacional (Usaid), Samantha Power, que será acompanhada pelo assessor da
Casa Branca Juan González e o presidente da comissão de Relações Exteriores da
Câmara de Representantes, Gregory Meeks. A Espanha enviará o rei Felipe VI e o
presidente de governo, Pedro Sánchez.
Gabinete de ministros
Antes mesmo de assumir a gestão,
Petro já anunciou cerca de metade dos ministros que o acompanharão no
Executivo.
Na pasta da Fazenda, nomeou o
economista José Antonio Ocampo, que desempenhou a mesma função durante o
mandato de Ernesto Samper, em 1994. Após deixar o governo colombiano, Ocampo
também ocupou o cargo de secretário executivo da Comissão Econômica para
América Latina e Caribe (Cepal) no início dos anos 2000.
O advogado, Iván Velásquez Gómez,
será o novo ministro de Defesa. Nos anos 90, atuou como procurador do
departamento de Antioquia liderando investigações contra o paramilitarismo.
Gómez também foi magistrado auxiliar na Corte Suprema de Justiça e chefe da
Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala.
O chanceler será Álvaro Leyva,
membro do Partido Liberal, e um dos mediadores dos Acordos de Paz, assinados em
2016, em Havana. Identificado como "homem de confiança" do
ex-presidente Juan Manuel Santos, Leyva também foi ministro de Minas e Energia
na década de 1980, vereador, deputado e senador.
Outro personagem conhecido da
política colombiana que deve assumir um cargo no novo governo é Alejandro
Gaviria, membro do Partido Liberal, que ficará com o Ministério de Educação.
Gaviria é engenheiro civil, foi um dos autores do Plano de Desenvolvimento de
2002 a 2006, durante o governo de Álvaro Uribe, e ministro de Saúde entre 2012
e 2018, na gestão de Santos.
A psiquiatra Carolina Corcho será
a nova ministra da Saúde. Corcho foi secretária de Saúde de Bogotá, durante a
gestão de Petro como prefeito da capital.
A pasta do Meio Ambiente será
coordenada por Susana Muhamad, representante do movimento Colombia Humana,
criado por Petro. Assim como a nova ministra de Saúde, a ambientalista Susana
Muhamad também trabalhou na prefeitura de Bogotá durante a gestão petrista, e
nos últimos três anos foi vereadora na capital.
A economista Cecilia López será a
nova ministra de Agricultura, na mesma pasta que conduziu durante o governo de
Ernesto Samper. López também já foi ministra do Meio Ambiente, diretora do
programa de Empregos da Cepal e senadora entre 2006 e 2010.
A primeira mulher indígena a
ocupar um cargo diplomático na Colômbia será Leonor Zalabata Torres, líder do
povo Arhuaca, nomeada como embaixadora na ONU.
Outra mulher a assumir um
ministério será Patricia Ariza, atriz e militante histórica do setor cultural,
diretora do Teatro La Candelaria - referência do teatro de arena colombiano. Há
30 anos organiza o Festival "Mulher em Cena pela Paz".
Os novos chefes do Executivo
também anunciaram a criação do Ministério de Igualdade, que será dirigido pela
vice-presidenta, Francia Márquez. Um dos objetivos da visita de Márquez ao
Brasil, em julho deste ano, foi conhecer experiências de política de inclusão
social e as ações afirmativas criadas nos governos petistas.
A dupla também prometeu criar o
Ministério de Paz, Segurança e Convivência, uma proposta da Comissão da Verdade
que fez recomendações a respeito do conflito armado. O grupo, criado a partir
dos Acordos de Paz de Havana, em 2016, teve três anos para dialogar com todas
as partes do conflito e elaborar o documento final com recomendações, que foi
entregue no dia 28 de junho.
Uma das redatoras do informe
final da Comissão da Verdade, Patricia Tobón, foi indicada para assumir a
Unidade de Vítimas do conflito.
O mandato presidencial tem
duração de quatro anos, e Petro e Francia, assumem com a maior bancada
governista da última década, em comparação com os seus antecessores.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
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