Episódio ocorrido em 16 de agosto de 1869 foi dos mais
sangrentos da guerra da Tríplice Aliança, que envolveu Brasil, Argentina e
Uruguai
Não existindo mais homens adultos, crianças foram mandadas para a frente de batalha |
São Paulo – Movimentos sociais e escolas do Paraguai
recordam nesta semana a sangrenta Batalha de Acosta Ñu, ocorrida durante a
Guerra do Paraguai (1864 a 1870) há 143 anos e que culminou com a morte de um
exército formado por aproximadamente 4 mil crianças. Adriano Muñoz, engenheiro
agroecológico e integrante da Organización Campesina del Norte (OCN) e da Via
Campesina Internacional, lembra que foi o maior massacre bélico do mundo, não
existindo antecedentes de outros exércitos integrados completamente por
crianças.
Muñoz ressalta que as crianças tiveram de enfrentar 20 mil
soldados do exército brasileiro. “A violência foi resultado da realidade
imposta pela guerra da Tríplice Aliança na qual os países vizinhos - Argentina,
Brasil e Uruguai, decidiram se aliar, obedecendo ao império inglês para nos
declarar guerra”, relatou.
O militante político explica a resistência do Exército no
momento anterior ao massacre das crianças. “Nosso heróico povo guarani resistiu
por cinco anos. Carregado mais de valor e patriotismo do que de armas, se
lançou para defender até a morte a soberania dos anos anteriores, construída
desde a nossa independência. Nesse período, o Exército não possuía mais
soldados porque mesmo os homens adultos mais cheios de coragem foram mortos
pela artilharia de coalizão que, em números, era muito maior.”
Não existindo mais soldados, em 16 de agosto de 1869, nos
campos de Acosta Ñu entrou a cavalaria de vinte mil homens para acabar
definitivamente com a população que havia restado. “Foi em um dia como hoje, na
madrugada, que as crianças resolveram deixar seus lápis e brinquedos para
enfrentar a tropa inimiga. Elas foram corajosas”, afirmou Muñoz.
Segundo Adriano, as mães das crianças acompanhavam a seus
filhos, escondidas no matagal para dar apoio. “As mães auxiliavam no
enfrentamento, entregando paus e pedras às crianças. A coragem esteve junto com
o pavor. O escritor José Chiavenato descreveu que as crianças de seis a oito
anos, no ápice da batalha, assustadas, se agarravam nas pernas dos soldados
brasileiros chorando para que não os matassem. Mas foram degolados no ato”,
explicou.
“Depois da insólita batalha de Acosta Ñu, ao cair da tarde,
as mães das crianças paraguaias saíam da mata para resgatar os cadáveres de
seus filhos e socorrer aos poucos sobreviventes. Então, o conde d'Eu, dom Luís
Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans, mandou incendiar a todos, matando as
crianças e as mães. Sua ordem era matar do feto ao ventre das mulheres”, relatou
Muñoz.
Nos dias de hoje
Para Adriano, essa história não somente acabou com a
população paraguaia, mas abalou, até a atualidade, o desenvolvimento de um povo
que desde 1811 havia decidido, segundo ele, ser livre e independente.
“Atualmente o Paraguai é um país empobrecido, dependente, assediado pelo
capitalismo e submetido às garras de grandes corporações”, disse.
O ativista ressalta a importância de recordar a resistência
das crianças nesse momento. “Hoje, depois do golpe que sofremos nos últimos
dois meses, que depôs o ex-presidente Fernando Lugo, a lembrança de nossas
crianças é fundamental. A batalha mostra a coragem que as elas tiveram naquele
momento e deve nos motivar a resistir”.
“Esta página sangrenta de nossa história, longe de ficar em
nosso esquecimento, alimenta ao nosso povo a seguir lutando frente ao novo
império e seus representantes em nosso país porque as crianças que lutaram há
143 anos são as mesmas que vivem hoje nas ruas, que não vão à escola porque são
pobres. Elas todas, nos faz perceber a necessidade de seguirmos em frente,
buscando nossa segunda independência”, concluiu Muñoz.
Via - Rede Brasil Atual.
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