Por Luana Costa
Descortinei a poesia, numa viajem pessoal na sétima série, aquela literatura que escreve de um jeito e só entende quem sonha. Naquela salinha de leitura criada para incentivar os sonhos. Puxei um livro aleatoriamente, o nome do livro não me recordo, mas era de Cecília Meireles...
Abrindo o livro avistei "Mulher ao espelho", uma mulher se enxergando de forma realista, cruel e conformada, naquele momento viajei com ela e "conversamos" no meu mundo, foi um voo longo por aquele lugar, até ouvir aquele sinal e uma voz " a aula acabou". Ali nos separamos, entristecida voltei para a sala, com aquela ânsia de querer mais, de sentir mais, queria conhecer aquela mulher que era como eu, sentia e pensava como eu, tinha encontrado alguém que gritava no mesmo silêncio. No caminho para casa, muito pensei sobre aquele livro, pois o poema havia me despertado, senti que podia ser como ela, assim como ela era, assim como eu.
Ao longo dos anos fui desenvolvendo e aprendendo a lidar com a forma de me expressar através da escrita, o meu primeiro poema foi "Cisne", dali em diante mesmo em longas pausas, criei vários e para todos tenho uma história e um sentimento, é incrível como lembro-me da sensação de cada um deles quando escrevi. É um diário público, codificado, sem transparecer as lágrimas, mas relatando a dor de cada momento.
Este ano a poeta se ocultou em mim, ali adormecida, porém nesta tarde de muito sol e pouca sombra, no decorrer de uma pesquisa encontrei a ultima entrevista dada por Carlos Drummond de Andrade, dois anos antes do meu nascimento, 1987, e um pouco antes de sua morte. Foi admirável ler aquilo, ali estava eu a olhar para um homem como meu pai, como o vizinho, como outro que encontrei pela rua, tinha uma sabedoria enorme pela forma robusta de responder, um homem simples de palavras açucaradas em suas linhas, que imaginava-se esquecido, como mais uma alma que chora através de suas poesias.
Parecia uma criança ouvindo seu ídolo na rádio, era como se eu escutasse a voz dele, eu não conhecia Drummond, o via como um poeta de frases citadas por gente que também nunca parou para o conhecer de verdade. E hoje eu o conheci, do meu jeito, da minha forma de compreender suas palavras, mas eu me apresentei a ele naquele momento de leitura. E como se não bastasse, me afoguei nessa busca, devera fazer o que já deveria ter feito, conhecer Cecilia Meireles, a madrinha dos meus poemas, do meu despertar. Busquei suas ultimas palavras divulgadas, a ultima entrevista dada ao jornalista Pedro Bloch, em maio de 1964.
Não que eu já não a conhecesse, mas sempre soube tão pouco, idealizava sua alma em cada prosa, em cada verso, me tornando amante deste vicio que é a poesia, suas sensações, sua vida na literatura... Como se pudesse, ela surpreendeu-me ainda mais, na sua simplicidade de expor aquilo que nunca foi oculto para mim. Seu coração.
Palpitou-me o coração ao rever estes amigos, de os conhecer tão profundamente, pois entendi que poetas são almas em cumplicidade, em sua mais pura honestidade, que não invejam, mas sim admiram tanto a vida quanto aqueles que vivem nela. Sem precisarem sequer sair de seus quartos.
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