Por Guilherme Zocchio
da Repórter Brasil
Cadáver do trabalhador estava dentro da Fazenda Vale do
Triunfo a cerca 20km de onde fora assassinado. Equipe policial encontrou a
vítima, após uma denúncia anônima
|
O corpo do tratorista Welbert Cabral Costa, desaparecido
desde o dia 24 de julho, foi encontrado na tarde desta quinta-feira (22) no
interior da Fazenda Vale do Triunfo, localizada na zona rural de São Félix do
Xingu, no sul do Pará (PA). A área é de propriedade da Agropecuária Santa
Bárbara, empresa ligada ao Grupo Opportunity, que tem entre os acionistas o
banqueiro Daniel Dantas.
Segundo a Polícia Civil paraense, após denúncia anônima, a
equipe coordenada pelo delegado Lenildo Mendes dos Santos, responsável por
investigar o caso, conseguiu localizar os restos mortais da vítima a cerca de
20 km da guarita de entrada da propriedade, onde há quase 1 mês o trabalhador
rural teria sido assassinado por reclamar direitos trabalhistas.
De acordo com o advogado Rivelino Zarpellon, que acompanha
as investigações pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH),
a vítima fora identificada pelo irmão do tratorista. O familiar teria
reconhecido as roupas que vestiam o cadáver, dadas de presente pela mãe, bem
como uma falha característica na boca, que acompanhava uma prótese dentária.
O corpo de Welbert fora encontrado amarrado, fato que
levanta as suspeitas de que ele teria sido deslocado do local original para não
ser encontrado, desde que o caso ganhou repercussão, conforme informações do
integrante da SDDH à reportagem.
Os acusados pelo crime, Maciel Nascimento e Divo Ferreira, seguranças
da Fazenda Vale do Triunfo, no entanto, continuam foragidos, segundo Zarpellon.
Uma testemunha ocular teria presenciado os dois funcionários da empresa
renderem Welbert Cabral Costa e realizarem um disparo contra a nuca do
trabalhador, depois de uma discussão que se estendera por horas na portaria da
propriedade. Na sequência, o corpo da vítima teria sido colocado na caçamba de
uma camionete S-10 branca, para depois ser escondido em algum canto no meio do
matagal da região.
No último 24 de julho, o trabalhador fora à propriedade,
após estar afastado do serviço devido a um acidente profissional, para reclamar
uma quantia em direitos trabalhistas que não lhe havia sido paga. Sua entrada
fora barrada e daí teria começado uma discussão que seria encerrada com o
assassinato do tratorista.
À época, entidades da sociedade civil e movimentos sociais
denunciaram o crime e cobraram agilidade nas investigações do caso. Welbert
Cabral tinha 26 anos, esposa e quatro filhos pequenos, o mais velho deles com 5
anos de idade e vivia com a família, em Xinguara (PA), município vizinho a São
Félix do Xingu (PA).
Grupo Santa Bárbara
Fundada em 2005, a Agropecuária Santa Bárbara é uma das
maiores empresa de pecuária de corte do Brasil. Com relevante participação acionária
do Grupo Opportunity, ligado ao banqueiro Daniel Dantas, possui, de acordo com
informações da própria companhia, mais de meio milhão de cabeças de gado,
distribuídas entre seus 500 mil hectares de terra, uma área equivalente a três
vezes o município de São Paulo.
Em nota enviada quando Welbert desapareceu, a empresa
informou que está “colaborando com as autoridades para desvendar essa situação
e apurar as eventuais responsabilidades”. “A Agro Santa Bárbara não coaduna,
não avaliza, não acoberta, não aprova qualquer atitude ilícita, repudiando de
forma veemente as injustas e falsas acusações de que outros eventos desta
natureza já teriam ocorrido em suas propriedades rurais”, diz o texto.
Em 2009, o Ministério Público Federal processou a
empresapelo desmatamento ilegal de 51 mil hectares, cobrando R$ 863,4 milhões
(valor corrigido pelo IPCA) em indenizações. Três anos depois, uma operação
libertou cinco trabalhadoresmantidos em condições análogas às de escravos em
uma fazenda do grupo.
No mesmo ano, famílias ligadas ao Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que estavam acampadas em frente a uma
fazenda do grupo em Eldorado dos Carajás (PA) protestando contra a grilagem de
terras, o trabalho escravo e o uso excessivo de agrotóxicos tiveram que deixar
o local depois que seguranças da área atiraram contra os manifestantes.
Tanto o Opportunity quanto Dantas aparecem, entre outros
episódios, na Operação Satiagraha, deflagrada no começo de 2004 para investigar
um grande esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de verbas
públicas. Além disso, a região, no sul do Pará, é conhecida pela pistolagem e
frequentes ameaças e assassinatos de camponeses.
Mortes no Pará
De acordo com um relatório da Comissão Pastoral da Terra
(CPT), entre 1996 e 2010, 799 trabalhadores rurais foram presos, 809 foram
ameaçados de morte e 231 assassinados no Estado do Pará. Nesse mesmo período,
31.519 famílias foram despejadas ou expulsas de 459 áreas que eram
reivindicadas para assentamentos da reforma agrária.
Segundo a instituição, ligada à Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), no ano passado, eram 130 fazendas ocupadas por 25 mil
famílias de trabalhadores rurais sem terra na região, uma disputa de mais de um
milhão de hectares.
No ano passado, a CPT divulgou um levantamento sobre a
situação de 38 lideranças e trabalhadores rurais ameaçados de morte na região
Sul-Sudeste do Pará. O estudo trouxe uma descrição do conflito e das medidas
que estão sendo tomadas ou não pelas autoridades competentes e apontou a
situação em que se encontra cada pessoa ameaçada.
O diagnóstico foi enviado para o Ministério Público Federal,
Incra, Ibama, Ministério Público do Trabalho, entre outras instituições, com
uma série de recomendações para a proteção aos trabalhadores e ao meio
ambiente. De acordo com a CPT, as causas estruturais das ameaças envolvem o
“desmonte da reforma agrária”, a “impunidade” e a “ineficiência na defesa do
meio ambiente”.
Entre os ameaçados de morte que constavam do relatório, está
Laísa Santos Sampaio. As ameaças de morte que ela tem sofrido seguem um roteiro
conhecido: recadinhos, invasões da própria casa, ter o cachorro alvejado por
balas. E o final de uma história semelhante foi visto quando assassinaram sua
irmã, Maria do Espírito Santo da Silva, juntamente com o marido dela, José
Claudio Ribeiro da Silva, ambos lideranças do Projeto de Assentamento
Agroextrativista Praia Alta Piranheira, localizado a cerca de 50 quilômetros da
sede do município de Nova Ipixuna, Sudeste do Pará.
O caso ganhou repercussão internacional em maio do ano
passado. A professora é o próximo alvo dos pistoleiros porque manteve a luta da
irmã. O projeto em Nova Ipixuna garante o sustento de mais de 500 famílias com
a produção de óleos vegetais, açaí e cupuaçu.
O documento cita mortes anunciadas, como as de José Dutra da
Costa, o Dezinho, Pedro Laurindo, José Pinheiro Lima, além das de José Claudio
e Maria. Todos já haviam informado às autoridades as ameaças que sofriam.
*com a colaboração de Stefano Wrobleski, Verena Glass e
informações do Blog do Sakamoto
Via Brasil de Fato
Nenhum comentário:
Postar um comentário