Era uma vez Patrícia Poeta. Três anos depois de chegar ao
Jornal Nacional, ela está fora.
Patrícia com o filho Felipe |
Por Paulo Nogueira, DCM
Segundo o comunicado da Globo, o prazo já estava
estabelecido quando ela passou a fazer companhia a Bonner no JN. Como pouca
gente acredita na Globo, também a explicação oficial foi imediatamente alvo de
suspeição na internet.
Uma das teorias conspiratórias sugeria que Dilma mandara
demiti-la depois que ela lhe apontou o dedo na já célebre entrevista concedida
ao Jornal Nacional.
Mas um momento: se isto for verdade – não dá para ter
certeza sequer a respeito do dedo – então Ricardo Noblat já deve estar
esvaziando a gaveta.
Infração à etiqueta por infração à etiqueta, a de Noblat foi
muito pior – além de comprovada. Na sabatina presidencial do Globo, Noblat
mandou Dilma falar menos para que ele e os colegas de Globo pudessem falar
mais. Noblat diria a mesma coisa a algum Marinho, numa reunião da empresa?
Mas é muito difícil acreditar que Dilma tenha pedido a
cabeça de Patrícia. Dilma não tem histórico de pedir cabeças de jornalistas, ao
contrário de Serra, para ficar num caso, e de Aécio, para citar outro.
Logo, não existem razões para Noblat esvaziar
preventivamente a gaveta.
Outra especulação é que teria pesado contra Patrícia a
informação, dada por Lauro Jardim, da Veja, de que ela estaria comprando um
apartamento de 12 milhões de dólares de frente para o mar, no Rio.
“Os caras da Globo ganham tanto assim?”, perguntou um internauta
quando soube do apartamento.
De fato, mesmo sem levar a sério as teorias conspiratórias,
é estranho a Globo anunciar a saída dela tão perto das eleições, sobretudo
depois da grande repercussão das entrevistas do JN com os presidenciáveis.
As empresas costumam anunciar este tipo de coisa em momentos
de calmaria, e não no calor de uma campanha presidencial.
Saiamos das especulações e entremos nas coisas como
concretas como o desempenho de Patrícia. Estaria aí a razão da troca? Sob o
ponto de vista do Ibope, ela foi mal. Pegou o JN com audiência média de 30%, em
2011, e o entrega um terço menor.
Mas, se fosse assim, Bonner também teria que ser despedido.
Quando Bonner assumiu o JN, em 1996, a audiência era superior a 40%. Agora, é
metade disso.
Na mesma linha, o editor do JN, Ali Kamel, também teria que
ser substituído. Mas sejamos justos: a má qualidade responde apenas por uma
pequena parte da queda de audiência não apenas do JN mas de todos os demais
programas da Globo.
O impacto muito maior vem da internet. A internet é uma
mídia disruptora. Ela vai pegando todas as demais. Revistas e jornais sofreram
primeiro, mas a tevê convencional é a próxima grande vítima.
Como mostra a Netflix, a tevê vai ser uma atividade a mais
dentro da internet. Você vai ver sua série favorita ou o telejornal de sua
preferência na hora em que quiser, em seu laptop ou em seu tablete.
A famosa grade da Globo é insustentável na Era Digital. Até
os eventos esportivos ao vivo vão marchando para a internet. Neste ano, pela
primeira vez, o site do US Open, um dos maiores torneios de tênis do mundo,
transmitia os jogos ao vivo.
Em breve, você não precisará de uma tevê para ver esporte ao
vivo, mas apenas de wifi e um aparelho qualquer. Contra isso, até a Globo, com
toda a sua força, é impotente.
Em termos de JN, isso quer dizer que mesmo que fosse um
telejornal esplêndido, a audiência seria declinante na Era Digital. Ninguém
imaginava até recentemente que a tevê se transformaria numa mídia decadente,
mas a internet fez isso.
Patrícia Poeta não precisa ficar embaraçada se alguém disser
que ela levou para baixo a audiência do JN. Nem Bonner. Nem Kamel. Nem, a
rigor, os Marinhos.
Schumpeter, o grande economista, falou na “destruição
criadora” que é a essência do capitalismo. Para a Era Digital florescer, as
mídias tradicionais serão forçosamente destruídas, ou reduzidas a quase nada. É
a “destruição criadora” em curso, ela que nunca se aquieta.
Fonte Pragmatismo político
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