Paradoxalmente,
se Aécio e a imprensa que o apoia conseguirem emplacar a pauta da
escandalização, o quadro eleitoral pode voltar a ser parecido com aquele que
havia antes da morte de Eduardo Campos
Faltando
menos de um mês para a eleição, Aécio Neves (PSDB) parece tão desesperado
quanto o próprio delator
Por
Helena Sthephanowitz
Faltando
menos de um mês para a eleição, Aécio Neves (PSDB)
parece tão desesperado
quanto o próprio delator
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Antes
de mais nada, a delação é bem-vinda. Quem cometeu crimes que responda por eles.
Mas precisa ter consistência. Até programas sensacionalistas de TV mostram
exame de DNA quando há casos de “delação” de suposta paternidade.
O
que não é bem-vindo é a escandalização forçada em matérias recheadas de
adjetivos e suposições sem provas, sem o equivalente ao exame de DNA, ainda
mais na véspera de irmos às urnas, o que ganha feições de golpes baixos de
campanhas eleitorais sem escrúpulos.
Faltando
menos de um mês para a eleição, Aécio Neves (PSDB) parece tão desesperado
quanto o próprio delator, ao se lançar como beneficiário da escandalização.
Isso porque no listão de políticos suspeitos montado pela revista Veja – sem
nenhum documento, nem referência a fontes – não aparecem tucanos, por ora. O
alvo da reportagem foi Dilma Rousseff (PT), por haver políticos da base
governista, e Marina Silva (PSB), por incluir o nome do ex-companheiro de
chapa, Eduardo Campos, entre os três governadores citados como envolvidos no
suposto esquema.
Como
Dilma é presidenta da República, o que ela deveria fazer? Exigir que a Polícia
Federal (PF) investigue. Ué, mas isso já está sendo feito há muito tempo.
Inclusive a delação acontece justamente nas dependências da PF, onde o delator
foi preso há meses. Nesse contexto, Dilma tem como neutralizar o efeito
político tentado contra sua candidatura, pois pode lembrar ao eleitor que as
instituições de combate à corrupção em seu governo funcionam e existe um
processo de depuração na política que nunca houve em governos anteriores. E é
incomum haver em governos estaduais, fora da jurisdição federal. Talvez essa
depuração seja a verdadeira “nova política”, pelo menos em parte, pois outra
parte depende de reforma constitucional no sistema político.
A
candidatura de Marina sofre danos com essa escandalização porque vinha surfando
no discurso da pureza na política e vê líderes de seu partido acusados de
praticar tudo de ruim que ela chama em seu discurso de “velha política”. Mesmo
que Marina não apareça envolvida diretamente, o discurso da pureza é abatido
pela convivência em um ambiente partidário contaminado.
Aécio
Neves, que se lança como beneficiário da escandalização, pode se sair pior do
que pensa. Campanhas de ataque, de demonização da política, atingem seus
adversários mas atingem também seu próprio perfil e produz severas baixas entre
seus próprios aliados, o que pode desagregar mais ainda sua campanha nos
estados.
Apesar
dos esforços da imprensa tradicional de pautar a campanha eleitoral com esta
escandalização, é questionável se o efeito no eleitorado beneficia a oposição.
Em vez de recolocar Aécio na disputa pelo segundo turno, pode apenas aumentar a
rejeição a todos os candidatos, fazendo crescer o número de votos nulos,
brancos e abstenções.
Dilma
é quem tem menos a perder, pois já sofreu incontáveis desgastes, bombardeada
com um noticiário sistematicamente adverso, e o piso de votos dela mostra-se
resistente nos níveis que as pesquisas têm mostrado. Aécio pode estancar sua
queda em um primeiro instante, mas deve voltar a cair em seguida, pois seu
partido e sua candidatura não convencem como bastiões da ética e o eleitor não
vota em quem só ataca adversários. Marina pode perder intenções de votos para
nulos ou para a própria Dilma. Afinal se Marina tem problemas com seus aliados
tanto quanto Dilma, as conquistas de prosperidade nos últimos anos e a campanha
propositiva podem falar mais alto e definir o voto de muita gente.
Paradoxalmente,
se Aécio e a imprensa que o apoia conseguirem emplacar a pauta da
escandalização, o quadro eleitoral pode voltar a ser parecido com aquele que
havia antes da morte de Eduardo Campos, com Aécio e Marina caindo nas intenções
de votos, nulos crescendo, Dilma mantendo-se estável e com chances de superar a
soma de votos dos adversários, o que a levaria à vitória em primeiro turno.
No Rede Brasil Atual
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