A simples leitura do
programa de governo de Marina da Silva que, como todos sabem, foi escolhida
pela "providência divina" e os acontecimentos recentes envolvendo as
alterações no seu programa partidário permitem levar ao eleitorado jovem pontos
fundamentais que revelam a natureza extremamente conservadora do eleitorado
mais jovem.
Por Gilson Caroni Filho*
Comecemos pelas questões macroeconômicas:
1) Marina pretende dar autonomia para o BC. O que significa
isso? Entregar o banco para o mercado financeiro. Não por acaso conta com o
apoio de banqueiros em sua campanha.
2) No documento, consta que políticas fiscais e monetárias
serão instrumentos de controle de inflação de curto prazo. Como podemos ler
este ponto? Arrocho salarial e aumento nas taxas de desemprego.
3) O programa ainda menciona a diminuição de normas para o
setor produtivo. Os mais açodados podem pensar em menos carga tributária e
burocracia para as empresas. Não, trata-se de reduzir encargos trabalhistas com
a supressão de direitos que facilitem as demissões. Há muito que a burguesia
patrimonialista pede o fim da multa rescisória de 40% a ser paga a todo
trabalhador demitido sem justa causa. O capital agradece.
4) Redução das prioridades de investimento da Petrobrás no
pré-sal. O que significa? Abrir mão de uma decisão estratégica de obter
investimentos para aplicar na Saúde e na Educação. Isso, meus amigos mais
jovens, é música para hospitais privados, planos de saúde e conglomerados
estrangeiros que atuam na educação. O que o grupo Galileo fez com a Gama Filho
e Univercidade , aqui no Rio, é fichinha perto do que está por vir. Era com uma
coisa desse tipo que vocês sonhavam quando foram às ruas em junho do ano
passado?
5) Em vez do fortalecimento do Mercosul, o programa da
candidata, que " quer fazer a nova política," prega o fortalecimento
das relações bilaterais com os Estados Unidos e União Europeia.Vamos retroceder
vinte anos e assistir a um aumento da desnacionalização da economia
latino-americana. É isso que vocês querem?
6)Meus caros amigos, não sei se foi a providência divina
quem derrubou o avião em que viajava Eduardo Campos. Mas o que a vice dele, uma
candidata que está à direita de Aécio Neves, lhes oferece é o pão que o diabo
amassou. Gosto da vida, gosto da juventude, mas, agora, cabe a vocês escolher o
que desejam enfiar goela adentro. Não há mais ninguém inocente.
No campo dos costumes, cabem outras indagações. O Partido
Socialista Brasileiro, que sempre teve uma agenda progressista, foi criado em
1947 .Ao ceder a pressões para lançar a candidatura de Marina da Silva, acabou.
No lugar dele, surgiu um PSB capturado pelo "Rede" da candidata do
Criador.
Pois bem, bastaram quatro tuitadas do Pastor Malafaia para o
partido retirar de seu programa de governo o casamento civil igualitário. Se em
quatro mensagens por twitter houve um retrocesso desse porte, imaginem em
quatro anos de um eventual governo do consórcio Itaú-Assembléia de Deus.
Descriminalização do aborto? Esqueçam. Descriminalização dos usuários de
drogas? Nem pensar. No mínimo, procedimentos manicomiais para os dependentes.
Pensem nos direitos conquistados pelas mulheres nos últimos anos sendo submetidos
ao crivo de dogmas medievais. Nos homossexuais como anomalias apenas "
toleradas", jamais como sujeitos de direitos.Sim, pois vislumbramos uma
religião se transformando em política de Estado.
É isso que vocês querem para o país? É isso que vocês querem
para suas vidas e a dos filhos que vierem a ter? Em caso afirmativo, chamem
Torquemada e me avisem: não quero ver ninguém ardendo em fogueiras. Tudo é
força, mas só Malafaia é poder. Não acredito que vocês desejem isso.
Melhor, não quero acreditar.
*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das
Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista do
Portal Vermelho.
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