Felipe Melo não é a cara do futebol brasileiro, que vive um
bom momento com Tite — mas é a do Brasil do golpe.
Se já tivemos Sócrates como um atleta que transcendia as
quatro linhas do gramado, hoje temos um volante violento, descontrolado,
falastrão e, coroando esses atributos, fã de Jair Bolsonaro.
Melo publicou um vídeo na internet no 1º de maio. Gritava:
“Deus abençoe a todos os trabalhadores e pau nos vagabundos! Bolsonaro neles!”
Diante da repercussão ensaiou um recuo: “Quando eu falo de
vagabundos, me refiro às pessoas que querem tumultuar o nosso país. Deus
abençoe a todos vocês. E, sim, eu sou Bolsonaro.”
Os dois são feitos um para o outro. Evangélicos, pouco
inteligentes, profissionais do ódio, confundem truculência com coragem.
Chico Buarque falava do tempo da delicadeza. Eles são o
negativo. São o que se apresenta para o momento. Felipe Melo é a Lava Jato de
chuteiras, é o atropelo da democracia, a vitória da selvageria.
Em 2005, foi acusado de esfaquear dois jovens em um hotel no
Rio de Janeiro. O primo assumiu a culpa. Mas ele se diz regenerado e “um homem
de Deus”.
Na apresentação do jogo do Palmeiras contra o Peñarol,
provocou os adversários com uma bravata idiota.
“Se tiver que dar porrada e tapa na cara de uruguaio, vou
dar. Pode ter certeza que, se vier mano a mano, vou dar porrada para defender
as cores do Palmeiras”, falou, para alegria da galera.
A profecia auto realizável terminou em confusão. Alegou que
um jogador o chamou de macaco. Não fez BO. Preferiu uma sacada genial: “A
mulher dele já deve ter traído ele com um negão”.
A falta de noção de Felipe Melo o impede de ver que ele não
se enquadra nos padrões arianos de seu ídolo.
Melo, que é negro, não vê problema em apoiar um sujeito que
narrou sua visita a um quilombo — a qual, aliás, ninguém sabe se ocorreu de
fato — em termos francamente racistas.
“O afrodescendente mais leve lá pesava 7 arrobas. Não fazem
nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”, contou Jair em sua
famosa palestra na Hebraica do Rio.
Ele poderia ser mais um jogador folclórico, como tantos que
existem, existiram e existirão.
Mas Felipe Melo é mais do que isso. Ele incorpora um estado
de espírito e um momento nacional e vocaliza uma imbecilidade infelizmente
generalizada.
A melhor imagem de Melo é essa que está acima. De quatro.
Como boa parte do país.
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