A uma semana de completar um ano do golpe, o que se vê no
país é um rastro de destruição. Já dá para tirar a placa de vende-se que estava
fincada no mapa do Brasil e substituir por outra: Vendido.
Por *RENATA MIELLI
No Mídia Ninja
Os golpes têm suas datas de aniversário. No Brasil temos,
por exemplo, o 30 de setembro de 1937, que instituiu o Estado Novo; o 31 de
março de 1964, que deu início à ditadura militar; e, mais recentemente, o 31 de
agosto de 2016, quando o Congresso destituiu a presidenta Dilma Rousseff da
presidência da República.
Mas os golpes, na verdade, são processos longos, que
poderiam ser melhor definidos no gerúndio. Ou seja, o golpe vai sendo gestado,
tem uma data simbólica, vai sendo aprofundado e, depois de um período
(geralmente de média e longa duração), vai sendo aos poucos desmontado até
chegar a um acontecimento que delimita historicamente o seu término. Pelo menos
tem sido assim, até agora, na maioria dos casos.
O golpe que está em curso no Brasil encontra-se no primeiro
gerúndio: sendo aprofundado.
Os últimos dias mostraram que Temer ainda tem capacidade
política para implementar a agenda econômica que uniu os setores da elite para
dar o golpe, e que tem domínio da base parlamentar para aprovar reformas que
favorecem a elite política e econômica.
Só essa semana, o governo instalado anunciou a privatização
da Eletrobrás e um pacote de privatização de outras 57 empresas/projetos, entre
os quais mais de uma dezena de aeroportos (Congonhas, Confins, Galeão, etc.),
rodovias, Loteria, até a Casa da Moeda consta da lista do que Temer pretende
vender.
Os anúncios vieram acompanhados da aprovação dos grandes
meios de comunicação. A Folha de S.Paulo estampou em editorial: Privatização
bem-vinda, o Globo comemorou: Privatização da Eletrobrás é lado positivo da
crise. A mídia vai aplaudindo seu preposto, mesmo que de forma mais discreta,
afinal, negócios são negócios, amizades ou inimizades é algo a parte.
As novas vítimas do discurso de ineficiência do setor
público, do combate à corrupção e do Estado mínimo se somam a já esquartejada
Petrobras, e suas subsidiárias, ao leilão privado para a exploração do pré-sal,
e a tentativa de repassar para a iniciativa privada a operação do satélite
geoestacionário para provimento de serviço de telecomunicação no país.
E não para aí. No Congresso Nacional, o Projeto de Lei
Complementar nº 79, que altera a Lei Geral das Telecomunicações, vai levar até
às últimas consequências o modelo privado-comercial para os serviços de
telecomunicação, acabando com a existência de um regime público para a
prestação de serviços essenciais, acabando com a figura da concessão e dando
para as empresas de telecomunicação a propriedade e o privilégio de explorar ad
eternum um serviço público previsto na Constituição.
E tem mais: Na Saúde, o ministro Fernando Barros criou um
grupo de estudo para implantar planos de saúde popular, num processo explícito
de privatização do SUS, já carente de recursos e ainda mais combalido com a
aprovação da Emenda Constitucional 95, que congelou os investimentos públicos
em saúde e educação por 20 anos.
Tem ainda a permissão de venda de terras para estrangeiros,
o fim da Reserva Nacional do Cobre, e uma lista interminável de medidas que
acabam com a soberania nacional.
Temer aprovou a Reforma Trabalhista, revogando direitos
consagrados dos trabalhadores desde 1943. Na Reforma Política teremos o
distritão, e já se fala em parlamentarismo ou semi-presidencialismo.
Como disse na coluna passada, apesar de todos os dias termos
a sensação de que chegamos no fundo do poço, vem o dia seguinte e mostra que
esse poço não tem fim.
Apesar dos ataques que vem sofrendo, Temer parece inabalável
e segue firme e forte no propósito das elites de vender o Brasil.
*Jornalista, coordenadora geral do Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação e secretária geral do Centro de Estudos da Mídia
Alternativa Barão de Itararé.
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