Publicada pela BBC Brasil, na reportagem “Por que ter filhos
prejudica mulheres e favorece pais no mercado de trabalho”, na quinta-feira
(17), a pesquisa “Como famílias de baixa renda em São Paulo conciliam trabalho
e família?”, feita pelo Insper (uma instituição de ensino superior e pesquisa),
na periferia da capital paulista comprova o dado cruel: o mercado de trabalho
não contrata mulheres que têm filhos.
O levantamento feito em 2012, foi publicado recentemente em
uma revista científica e mostra “a discriminação sofrida pelas mães num mercado
de trabalho machista e perverso”, afirma Ivânia Pereira, secretária da Mulher
Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
A pesquisa foi feita com 700 moradores de 30 bairros da
periferia paulistana, com pelo menos um filho de até 6 anos. Constatou-se que
38% das mulheres casadas que não trabalhavam gostariam de estar empregadas.
Pior ainda, praticamente a metade delas reclamou de não ter onde deixar os
filhos e por isso serem rejeitadas nos empregos que procuravam.
Além de serem discriminadas pelo mercado de trabalho, “a
falta de creche para que as mães possam deixar seus filhos e filhas em locais
de confiança é um dos maiores problemas enfrentado pelas mulheres
trabalhadoras”, diz Kátia Branco, secretária da Mulher da CTB-RJ.
Entre as mulheres separadas, 43%, estava sem emprego na
época da pesquisa, 24% disseram não encontrar trabalho e 23% reclamaram não ter
acesso a creche ou escola para os filhos. A maioira relata falta de vontade de
contratação dos empregadores.
A maquiadora Thaa Rodrigues, que tem dois filhos, conta à
repórter Camilla Veras Mota, da BBC que recebeu um sonoro não em uma entrevista
de emprego em uma loja no bairro do Brás, quando disse que tinha dois filhos e
era separada. "Em geral, depois do 'Quantos filhos você tem?', eles
perguntam, 'mas você é pelo menos casada, não é?'", diz Rodrigues às BBC.
Para Pereira, essa questão é mais comum do que se imagina
porque “o capital quer a reprodução da força do trabalho para manter um
exército de reserva e dessa forma deixar a mão de obra com custo baixo, mas a
reprodução humana é altamente castigada”.
Madalozzo revela também que boa parte dos homens
entrevistados percebe uma certa valorização no trabalho com a chegada do
primeiro filho. “De forma geral, eles afirmam que a paternidade os fez mais
responsáveis e que os patrões perceberam e os recompensam por isso",
explica a pesquisadora.
A especialista em planejamento financeiro Sonia Tomiyoshi,
conta à revista Crescer que foi recusada em um processo seletivo de uma empresa
por ser mãe. Ela conta que depois de dois meses e aprovada em todas as etapas
do processo recebeu uma ligação lhe agradecendo.
Segundo ela, a pessoa disse não ter “dúvidas de que eu era a
melhor candidata e faria um bom trabalho, mas que infelizmente a diretoria não
me contrataria por ter dois filhos pequenos”.
O fato acontece porque “a cultura patriarcal reforça a ideia
de que homens com filhos não fazem greve, não defendem seus direitos, devido às
maiores responsabilidades”, argumenta Branco.
Além do mais, complementa ela, “de uma maneira geral é
responsabilidade da mãe que cuida das crias, é a mãe que falta ao trabalho
quando o filho fica doente, enquanto o pai fica mais firme no trabalho para
prover o lar”.
A pressão sobre as mulheres é tamanha que “existem fábricas
que exigem que mostrem o absorvente menstruado para comprovar que não estão
grávidas”, conta Pereira. “Exigem que não seja casada, que não tenha namorado”.
A secretária da Mulher Trabalhadora da CTB nacional,
Pereira, diz que o preconceito é tão incutido, inclusive nas mulheres, que os
homens participantes do Curso de Paternidade Responsável do Sindicato dos
Bancários de Sergipe reclamaram no sindicato que suas companheiras não
confiavam neles para cuidar de seus bebês. A solução encontrada foi “fazer o
curso para os casais e acabar com essa desconfiança”, conta ela.
Branco lembra ainda que “as mulheres recebem quase 30% a
menos que os homens e são as primeiras a serem demitidas e as últimas a
conseguir recolocação no mercado de trabalho. Além de existirem pouquíssimas
mulheres em cargos de chefia tanto o setor público quanto no privado”.
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