Zilo e Zalo/Saudade Sertaneja |
A classe roceira e a classe operária ansiosas esperam a
reforma agrária
Sabendo que ela dará solução para situação que está precária
Saindo projeto no chão brasileiro que cada roceiro plante
sua área
E nesta miséria ninguém viveria pois a produção já
aumentaria
Quinhentos por cento até na pecuária.
Esta grande crise que a tempo surgiu maltrata o caboclo
ferindo seu brio
Dentro de um país rico e altaneiro morrem brasileiros de
fome ou de frio
Em nossas cidades ricas em imóveis milhões de automóveis já
se produziu
Enquanto o coitado do pobre operário vive apertado ganhando
salário
Que sobe depois que tudo subiu.
Nosso lavrador que vive do chão só tem a metade de sua
produção
Por que a semente que ele semeia tem que ser a meia com o
seu patrão
O nosso roceiro vive num dilema pois o problema não tem
solução
Porque o ricaço que vive folgado acha que o projeto se for
assinado
Estará ferindo a Constituição.
A grande esperança o povo conduz pedir a Jesus pela oração
Pra guiar o pobre por onde ele trilha e para as famílias não
faltar o pão
Que Ele não deixe o capitalismo levar ao abismo a nossa
nação
A desigualdade que existe é tamanha enquanto o ricaço não
sabe o que ganha
O pobre do pobre vive de tostão.
(Goiá - Francisco Lázaro - Cantada por Zilo e Zalo)
O texto acima é a letra da música que tem por título “A
grande esperança”, é antiga, porém trata de um assunto recente em nossa
história, a questão da reforma agrária, a exclusão social que o sistema capitalista
proporciona e a concentração de riqueza nas mãos de uma minoria. A composição é
de Goiá e Francisco Lázaro, a música foi gravada e interpretada pela dupla Zilo
e Zalo, ambos compositores e cantores, são clássicos no gênero da música
caipira, gênero este que enriquece a diversificada manifestação cultural do
nosso país. Com uma crítica ácida ao sistema capitalista, a dupla e os
compositores na época, enfrentaram problemas com a censura imposta pela
ditadura militar, a música foi então vetada, proibida de ser tocada e
comercializada em 1965, pelo então presidente Castelo Branco, uma época em que
os militares travaram guerra contra os comunistas, por criticar o capitalismo e
ser favorável a reforma agrária a música foi considerada subversiva. Foi, no entanto,
apenas mais uma das tantas formas de indignação, caladas pela mão opressora da
classe dominante e ditatorial que manchou nossa história política nos cobrindo
de revolta, luto e vergonha.
Por: Mateus Brandão de Souza, graduado em História pela FAFIPA.
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