Em 2 de setembro de 1945, mais de um milhão de pessoas se
acotovelaram, na praça Ba Dinh, em Hanoi, para ouvir a leitura da Declaração da
Independência da República Democrática do Vietnã, lida pelo líder nacional Ho
Chi Minh. O texto em português daquela declaração faz parte do livro ora
lançado pela Editora Anita Garibaldi, com apoio da Embaixada da República
Socialista do Vietnã no Brasil, organizado por Pedro de Oliveira, sob o título
“Ho Chi Minh – Vida e obra do líder da libertação nacional do Vietnã”.
É um livro memorável que registra a finura e amplitude
políticas de Ho Chi Minh, o grande líder da revolução vietnamita que derrotou
três imperialismos na busca da autonomia e independência nacional – a França, o
Japão e os EUA.
Na Declaração da Independência, há a referência direta às
Declarações de Independência dos Estados Unidos, de 1776, e a Declaração da
Revolução Francesa, de 1791. “Todos os homens são criados iguais. Eles são
dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre eles a vida, a
liberdade e a busca pela felicidade”.
São referências notáveis – a França era a metrópole colonial
perante a qual o Vietnã declarava sua independência, e os Estados Unidos, a
potência imperialista que se engajaria numa guerra selvagem contra a soberania
e autonomia do Vietnã. Referência notável porque ecoa, na afirmação da
independência do Vietnã, de forma clara, o caráter da luta nacional e
democrática do povo vietnamita, ao de luta semelhante dos povos da França e dos
EUA – que, em tempos passados, buscaram objetivos semelhantes aos que o povo do
Vietnã buscava, em pleno século 20.
A antologia de textos que faz parte do livro agora lançado,
revela Ho Chi Minh, um homem modesto e simples, como um gigante do pensamento e
da ação política revolucionária que ele foi.
O livro é composto por um prefácio de Renato Rabelo
(presidente da Fundação Maurício Grabois), uma introdução de autoria do
organizador Pedro de Oliveira, a cronologia da vida de Ho Chi Minh, um caderno
de imagens do líder revolucionário vietnamita e uma entrevista com Do Ba Khoa,
embaixador da República Socialista do Vietnã.
Mas o grosso do livro é formado pela antologia de textos de
Ho Chi Minh, finalizando com o poema “Ao fim de quatro meses”, escrito por ele
num dos momentos em que passou pela prisão.
A antologia de textos é de grande importância, e permite que
se aprofunde o conhecimento da obra daquele que pode ser visto como um
continuador de Lênin no Oriente.
Formada por textos desde um escrito em 1919 –
“Reivindicações do povo anamita” – até o “Testamento” que escreveu em 1969,
apenas quatro meses antes de deixar a vida, aos 79 anos de idade.
Esta coleção de textos de Ho Chi Minh pode ser lida de forma
prazerosa e agradável pois, sendo poeta, Ho Chi Minh aplica esta habilidade à
escrita, mesmo de natureza política. Mas, mais importante que isso, os textos
de Ho Chi Minh revelam sua grande preocupação contra todas as formas de opressão.
E deixam claras as barbaridades cometidas pelos dominadores, sejam de classe,
de raça ou de gênero. Há relatos jornalísticos comoventes, pela dramaticidade,
sobre crimes bárbaros cometidos por europeus “civilizados” – desde agressões
físicas ou verbais até estupros e assassinatos cometidos impunemente por
colonizadores. Há também a descrição em cores vivas da crueldade de
linchamentos racistas, de negros ou brancos que os apoiassem, que eram quase
cotidianos nos EUA.
Há também o relato da construção política e ideológica de
organizações revolucionárias, na França e, depois, na Indochina e no Vietnã.
Sua preocupação permanente com a formação dos militantes revolucionários e
comunistas – num texto chama a atenção para o maior valor da qualidade, ante a
quantidade, no espírito leninista do mais vale pouco mas bom.
Como chefe de Estado, depois de 1945, empenhou-se
profundamente na alfabetização de trabalhadores e camponeses, num esforço
constante e consistente pela ampliação de sua consciência política.
Há textos que explicitam a forte ligação do pensamento de Ho
Chi Minh ao do revolucionário russo Vladimir Ilich Lênin. Aliás, no texto “O
caminho que me levou ao leninismo”, Ho Chi Minh lembra sua emoção ao participar
nos debates, no Partido Socialista Francês (que depois se tornou o Partido
Comunista Francês) sobre a participação na III Internacional, fundada por Lênin
em 1919.
“O que eu mais queria saber – e o que justamente não era
debatido nos encontros – era: qual Internacional está do lado dos povos das
colônias? Eu levantei essa dúvida – a mais importante em minha opinião – no
encontro. Alguns camaradas responderam: ‘é a III Internacional, não a II’. E um
camarada me deu para ler a ‘Tese sobre as questões nacionais e coloniais’ de
Lênin, publicadas pela ‘L’Humanité’. Havia termos políticos difíceis de
entender nessa tese. Mas, por meio do esforço de lê-la e relê-la, pude
finalmente apreender a maior parte deles. Que emoção, entusiasmo,
esclarecimento e confiança essa obra provocou em mim!”
Ou seja, identificou em Lênin não só o patriotismo, mas,
sobretudo, a visão de que a luta pela soberania nacional está ligada à luta
pela emancipação da classe mais oprimida, contra o domínio capitalista.
Esta visão fez a força do pensamento de Ho Chi Minh ao
identificar a luta nacional com a luta social, de classes, aliando-se a todas
as forças sociais capazes de combater pela libertação de todos os homens, de
lutar contra todas as formas de opressão.
As ideias que, fundamentadas nos ensinamentos de Marx.
Engels e Lênin, fizeram de Ho Chi Minh o dirigente da luta pela independência
do Vietnã, que derrotou três imperialismos – o francês, o japonês e o
estadunidense – e que, hoje, iluminam a luta pela libertação nacional, contra o
imperialismo e a luta de classes, contra o domínio capitalista. O significado
do nome Ho Chi Minh permanece válido: “Aquele que ilumina”.
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