Cedella Marley relembra momentos ao lado do pai, ícone do
reggae
Leia seu depoimento:
Ele era um pai legal, o mais legal possível. Nunca levantava
a voz para nós. Acho que, porque passava tanto tempo na estrada, quando não
estava viajando era algo como 'temos quatro dias, o que vamos fazer? Vamos nos
divertir'.
Quando estava em casa, era ele quem nos buscava na escola e
nos levava à praia. Íamos correr, nadar. Ele era competitivo, fanático por
exercícios.
O estilo dos meus pais era: 'Se estamos disputando uma
corrida, não pense que vamos deixar você ganhar!'. Era uma época divertida –
assisti-lo enquanto ele nos via perdendo!
Não diria que ele era um pai meloso, mas era divertido. E
engraçado - sempre tentava te fazer rir.
Escrevia canções ao nosso redor, e isso também era divertido
de ver. Era algo meio casual – ficávamos assistindo TV e ele ali, com seu
violão.
(A canção) Nice Time era a minha canção de ninar, e ele a
escreveu pra mim quando eu nasci.
A música foi algo importante em nossa infância. Não era algo
que éramos obrigados a fazer. A atitude do meu pai era: 'Se você quiser fazer
música, pode, mas daí terá que fazer muito bem'.
Ele era um perfeccionista – tudo tinha que ser perfeito.
E era muito rígido com a nossa lição de casa. Frequentávamos
escolas católicas. Era engraçado porque as pessoas diziam: 'Seu pai é tão
rastafari'. Eu respondia: 'Pois é, e ele nos manda a escolas católicas!'.
Sendo criado na Jamaica, culturalmente você desenvolve
preconceitos religiosos. E, sendo filha de pais rastafaris, as pessoas queriam
me fazer sentir 'menos do que elas' por causa da religião. Acho que é por isso
que, para o papai e mesmo para nós, os filhos, era importante se superar –
sempre estávamos tentando romper barreiras, mudar as coisas e fazer algo
diferente com as nossas vidas.
O papai queria que eu fosse uma médica ou advogada. Agora,
olhando para trás e, pensando em todos os problemas legais que tivemos,
provavelmente eu devesse ter cursado direito!
Meu pai tinha namoradas. Acho que fazia parte da vida – eu
nunca me casaria com um músico. Mas sua relação com a minha mãe parecia
amorosa. Sempre que eu os via, pareciam amorosos.
Minha mãe criou a maioria dos filhos do meu pai em algum
momento. Todos vivemos na mesma casa em alguns momentos. E mesmo agora, na
idade adulta, estamos a quarteirões de distância uns dos outros. Minha vida não
seria a mesma sem eles.
Não me lembro de nenhuma vez que tenhamos chamado amigos
para dormir em casa, porque seus pais não deixariam. Acho que (essas pessoas)
tinham uma ideia errada da nossa casa.
Talvez pensassem que você chegaria na nossa casa e haveria
maconha pelos cantos, mas era um lugar muito rígido – nossos pais não fumavam
dentro de casa.
Meu pai era um pai sexy, musculoso e com dreadlocks. Eu
tinha orgulho dele.
Sempre que ele nos buscava na escola, eu andava com o peito
estufado e meu nariz para cima. Era como se dissesse: 'Este é o meu pai'. Ele
era o pai mais sexy da escola.
Sua influência duradoura em mim? Ele disse algo com o qual
eu não concordo 100%: 'Se a minha vida é só para mim, então não quero (viver)'.
Mas eu entendo o que ele quis dizer. Se você não é capaz de
fazer algo que provoque mudança, então para que está vivendo? Mesmo que o nosso
tempo juntos tenha sido curto, ele era uma ótima pessoa para ter como pai.
Cedella Marley foi entrevistada pelo programa Outlook, do
Serviço Mundial da BBC.
Via Portal R7
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