Por Paulo Nogueira
Aécio não entendeu as manifestações de junho, como se tem visto em suas falas, incluídas as da noite desta terça-feira no programa de tevê do PSDB..
E se ele não entendeu os protestos ele não está entendendo nada. É possível que ele se lance candidato à presidência da República em 2014 sob a mais espessa ignorância, com o previsível desfecho de ruínas e lágrimas.
Os protestos, ao contrário do que disse hoje Aécio, não giraram em torno da “corrupção” ou mesmo dos “serviços públicos”.
Na raiz das manifestações estava o descontentamento com a desigualdade social, e com a velocidade – muito aquém da desejável – com que o PT vem enfrentando esta tragédia nacional em dez anos de poder.
O que as ruas disseram foi que não queriam mais aturar alianças do PT como as feitas com Paulo Maluf e os ruralistas porque o preço social é muito alto.
Mais inclusão foi a principal bandeira das chamadas Jornadas de Junho.
Quando a direita tentou encampar as manifestações, ela trouxe à cena a batidíssima – corrompida, é melhor — causa da “corrupção”.
Sabemos quantos crimes foram cometidos, ao longo da história, em nome do “combate à corrupção”.
Os genuínos mobilizadores – sobretudo o pessoal do Passe Livre de SP – debandaram quando os espertalhões quiseram se apropriar dos protestos. E então eles micharam.
Ecos dos ganidos anticorrupção de ouviram em frente do STF em Brasília nos dia em que Celso de Mello desempatou a votação em favor dos embargos infringentes. Segundo um tuíte de uma jornalista da Globonews, o protesto no STF juntou “50 pessoas e uma vuvuzela”.
Aécio não entendeu nada. Ele é a continuação, pela política, da voz obsoleta e cada vez menos ouvida da mídia.
Coloquemos assim. Aécio está para a política assim como Merval Pereira ou Reinaldo Azevedo estão para o colunismo político. Vivem, todos eles, numa espécie de universo paralelo, e parecem não se dar conta de que ninguém os ouve fora de um círculo cada vez menor.
O espírito do tempo é a indignação contra a iniquidade, contra a predação feita por um pequeno grupo contra os chamados 99%.
Mas Aécio não enxerga isso. Por isso é um candidato tão ruim – ok, quase tão ruim – quanto Serra seria.
O PSDB, caso não queira marchar para a extinção, vai precisar de um homem como o Papa Francisco. Alguém que empurre o partido na única direção possível num Brasil como o que temos: rumo aos pobres.
Qualquer partido que queira desafiar o PT terá que batê-lo aí – na arena do combate à iniquidade.
Existe um homem à Francisco no PSDB? Não sei. Suspeito que não. Mas não tenho certeza.
O que é batata, como dizia Nelson Rodrigues, é que Aécio não é esse cara.
O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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