Em um Estado que não é "laico", candomblé e
umbanda lutam por protagonismo político e disputam espaços de poder.
O advogado Hédio Silva, a mãe Liliane D'Oxum, Juninho do
PSOL, o sacerdote Taata Nkisi e a Ìyàlòrísá Luciana Ty Oyá posam para foto /
Norma Odara
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Norma Odara
Brasil de Fato
"A umbanda e o candomblé, embora [religiões]
subnotificadas por órgãos oficiais, representam uma fatia enorme da população
brasileira. São pessoas que enfrentam toda ordem de violência, de
discriminação, de humilhação, de constrangimento em função da sua profissão de
fé. Isso é algo que atesta que nós não temos uma democracia verdadeira no
Brasil", afirma o advogado Hédio Silva Júnior, que atua como defensor de
questões envolvendo intolerância religiosa, sobretudo envolvendo as religiões
de matriz africana.
Hédio participou da mesa sobre "Política e as
Comunidades Tradicionais de Terreiro" no debate organizado pelo Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL), realizado nesta quinta-feira (23), na capital de
São Paulo. O evento contou com a presença de diversos líderes de religiões
africanas, como o sacerdote do terreiro de candomblé Congo-Angola Nzo Tumbansi,
Taata Nkisi Katuvanjesi; a sacerdotisa do terreiro Ile Oba Asé Ogodo, Ialorixá
Luciana Ty Oyá, e a Mãe Liliana d'Oxum, da Comunidade da Pedra Branca.
"A sociedade enxerga as tradições religiosas
afro-brasileiras como algo negativo. Um estigma da ancestralidade que as
pessoas não enxergam. Além disso, nós temos um município que trata nossas
oferendas como lixo urbano e nossas cantigas como barulho. Nós somos templos
religiosos!", destaca Mãe Liliana d'Oxum.
Na mesma linha, o sacerdote Taata Nkisi concorda com o
descaso da cidade em relação aos terreiros: "São Paulo tem 36 mil
terreiros [não contabilizados por órgãos legais] e o racismo institucional e
religioso é tão violento que as pessoas que professam religiões de matrizes
africanas tendem a ficar inibidas".
Com relação ainda à perseguição que essas religiões
enfrentam, em 2016, em Cotia, um projeto de lei pretendia barrar o sacrifício
de animais em cultos religiosos. Movimentos populares e o PSOL moveram uma ação
alegando inconstitucionalidade do texto, com o argumento de que a indústria da
carne não é proibida de abater seus animais "de maneira capitalista e
rentável, mas rituais religiosos são discriminados por fazê-lo em escala
infinitamente menor". O projeto foi barrado.
Sobre o tema, a Ialorixá Luciana ressaltou a importância dos
rituais sagrados com animais: "Nós não chegamos neste ano nem a 200 abates
de galinhas, por exemplo. A oferenda do animal serve como alimento à
comunidade, alimento para o corpo e para o espírito".
Próximos passos
Os debatedores e debatedoras firmaram o compromisso de
dialogar conjuntamente para deliberar os próximos passos e estratégias para uma
ação eficaz, que insira religiosos nos espaços de poder e na política, através
de mecanismos muito mais próximos e transformadores, por meio da educação, como
defende a Ialorixá Luciana Ty Oyá:
"Nós não temos pessoas da nossa religião nos espaços de poder,
logo, eles não nos representam, eles não validam as ações, eles, inclusive,
desrespeitam aquilo que está na legislação para nos atingir, desqualificar e
demonizar as religiões afro brasileiras", defende.
Edição: Vanessa Martina Silva
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