Mobilização popular será decisiva para posicionamento de
deputados, avaliam Patrus Ananias e Fernando Horta.
A autorização da Câmara dos Deputados para abrir processo de
investigação criminal contra o presidente golpista, Michel Temer (PMDB), e seu
consequente afastamento só irá vingar se houver mobilização da população e
entidades organizadas da sociedade civil. Essa é a opinião de fontes ouvidas
pelo Brasil de Fato logo após a formalização, na noite dessa quinta-feira (14),
da segunda denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo
Janot.
Temer, os ministros Eliseu Padilha, da Casa Civil; Moreira
Franco, da Secretaria-Geral; e os integrantes do PMDB Eduardo Cunha (RJ),
Henrique Eduardo Alves (RN), Geddel Vieira Lima (BA) e Rodrigo Rocha Loures
(PR) foram denunciados por organização criminosa e obstrução à justiça. Os
executivos Joesley Batista, um dos donos da JBS, e Ricardo Saud também foram
denunciados.
Segundo a denúncia, eles cometeram crimes em troca de
propina da Petrobras, Furnas, Caixa Econômica Federal, Ministério da Integração
Nacional e Câmara dos Deputados. Temer é apontado como o líder de uma suposta
organização criminosa. A acusação contra Temer de obstrução da Justiça refere-se
à delação da JBS de que o presidente teria autorizado a compra do silêncio de
Cunha e do operador financeiro Lúcio Funaro.
O deputado Patrus Ananias (PT-MG) admite que a luta na
Câmara para a admissibilidade da denúncia será árdua. “A Câmara, infelizmente,
tem uma maioria extremamente conservadora, está muito rebaixada do ponto de
vista ético, moral e dos compromissos com o povo brasileiro. Nós devemos
trabalhar na Câmara, mas é fundamental também que a sociedade se mobilize”,
afirma.
Segundo ele, é preciso ainda levar em consideração que o
governo Temer está deslegitimado não só por conta das consecutivas denúncias de
corrupção envolvendo o presidente e seus ministros, mas pelo desmonte do Estado
e caça aos direitos sociais que está sendo promovido por sua gestão. “Vai
ficando cada vez mais claro que o senhor Michel Temer não tem condição de
governar o país. Independente de aspectos jurídicos e do posicionamento da
Câmara, está claro que ele está incompatibilizado com a nação brasileira”,
afirma.
Outro ponto abordado por Patrus é que o processo de
afastamento do presidente golpista deve também envolver uma discussão para
sobre o que vem depois e, neste caso, deve ser a convocação de eleições diretas
com a garantia da participação do ex-presidente Lula na disputa à presidência
da República.
O pesquisador e historiador da Universidade de Brasília
(UnB) Fernando Horta também acredita que só um novo ator no cenário político
poderia levar ao afastamento de Temer, pois com a atual correlação de forças
políticas, ele diz que a votação desta denúncia será ainda mais fácil do que a
primeira. Isso, se deve, principalmente, em função de um processo em curso de
deslegitimação da delação dos executivos da JBS, que já tiveram seus benefícios
suspensos em razão do descumprimento de regras previstas nos depoimentos.
Esse, inclusive, é um dos principais argumentos da defesa do
presidente Temer e sua base governista na Câmara. Outro ponto, apontado pelo
professor, é saber se a delação de Lúcio Funaro, apontado como o operador
financeiro do PMDB, contém provas robustas: “A gente tem que ver o que ele tem
de provas, porque uma das coisas que está ficando patente para todo mundo é que
a mera delação não se sustenta”.
Sobre a influência da mídia comercial nesse processo, Horta
ainda diz ser preciso levar em conta a postura da Rede Globo. “A Globo já deu
provas que não está mais do lado do Temer. Se ela comprar essa legitimação,
pode haver algum tipo de pressão contra Temer, mas eu duvido que essa Câmara
venha a incomodá-lo. Eu acredito que vamos ter o Temer até 2018”, afirma.
Um fator que pode colaborar com a mobilização é a economia e
o impacto da reforma trabalhista e da terceirização na vida do trabalhador.
Isso pode levar, avalia Horta, a uma conscientização maior de o quanto o
governo golpista tem sido danoso ao país: “Isso vai provocar um terremoto na
vida das pessoas mais pobres”.
Edição: Vanessa Martina Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário