Por enquanto, o conflito político em torno do ministro da
Justiça e ex-juiz Sérgio Moro passou de guerra de movimento para guerra de
posição. Sai a lógica da blitzkrieg e entra a da guerra de trincheiras. Nem
Moro conseguirá rapidamente amputar a série de revelações do Intercept, nem
este parece estar perto de derrubar o símbolo maior da Lava-Jato. A avaliação é
do jornalista Alon Feuerwerker, colunista do site Poder 360.
Segundo ele, o morismo teve alguma perda de musculatura. “Acabou a unanimidade jornalística, e mesmo no mundo político personagens que antes assinavam cheques em branco para o então juiz e hoje ministro embainharam a caneta. E Moro não é mais juiz. Não pode mais mandar prender nem fazer busca e apreensão nem ordenar condução coercitiva”, escreve.
Mas o ministro mantém fortes trunfos, avalia. “O mais
importante deles: sua presença na Esplanada continua mais ajudando que
atrapalhando Jair Bolsonaro. E o presidente tem motivos reforçados para segurar
o ministro, pois agora não é mais o um que depende do outro, é o outro que
depende do um. E enquanto Moro estiver no alvo também concentra a sanha dos
inimigos do governo.”
Taticamente, diz Alon Feuerwerker, o saldo de Moro no Senado
foi neutro. “É sempre ruim estar na berlinda por causa de acusações, mas o
núcleo duro do morismo garante uma versão favorável do que aconteceu ali. Que
contrabalança o desconforto de ter virado vidraça depois de anos de estilingue.
E esse saldo tático seria até positivo, não fosse um detalhe: o trem vai
continuar rodando.”
O colunista prossegue escrevendo que, estrategicamente, há
alguns complicadores. “Se é mesmo crime a captação não autorizada de mensagens
alheias trocadas em ambiente reservado, a divulgação delas é garantida não
apenas pela Constituição mas por um punhado de decisões judiciais recentes. E
para azar dos vazados a face visível do Intercept é um cidadão dos Estados
Unidos da América. Complicado.”
O que acompanhar nas atribulações de Moro? Alon Feuerwerker
responde que principalmente a curva de prestígio-desprestígio que o ex-juiz
transfere para o presidente, elemento central para avaliar a probabilidade de
um ministro continuar no cargo. E por enquanto o saldo é favorável a ele
continuar. Mas a novela está no começo. Aliás não chegou nem no fim do começo,
muito menos no começo do fim.
Para ele, será necessário avaliar melhor mais adiante,
quando, e se, a impaciência com a economia ruim começar a erodir para valer a
gordura presidencial. “As pessoas toleram melhor os ditos malfeitos, reais ou
atribuídos, quando a economia vai bem ou quando têm a esperança forte de que
vai melhorar. E toleram pior quando esse capital de otimismo é dissipado.”
E arremata: “Moro agora depende muito de Paulo Guedes. E do
Intercept, claro. O próximo capítulo da série virá do STF, quando analisar o
pedido de suspeição de Moro para julgar o ex-presidente Lula. Isso se o STF
decidir enfrentar o problema, pois tem muitas maneiras de protelar. Pelo jeito
a decisão vai depender do decano, Celso de Mello. Uma declaração de suspeição
abriria caminho para a anulação do veredito de Moro no triplex.”
Via - Portal Vermelho
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