Já dizia o bom e velho Sartre que estamos condenados a
escolher. Por evidente, toda escolha tem seu custo (aventuras aí incluídas). O
historiador Marco Antonio Villa talvez só tenha se dado conta disso agora,
posto que não aprendemos com os erros, mas com as consequências deles.
Dos muitos e variados meios de comunicação que se engajaram
na tarefa de negar e corroer as bases do sistema político brasileiro elegendo
os governos do PT como foco de “ todo o mal que aí está”, é provável que o
Grupo Jovem Pan tenha sido o mais bem-sucedido. Astuta, velhaca, como é típico
da mídia que persegue audiência a qualquer preço, a Jovem Pan captou o ânimo
“anti-establishment” e anti-PT como ninguém. Surfou habilmente nessa onda,
cresceu e, em época de vertiginosa preguiça cognitiva, ganhou proeminência
sobre os concorrentes.
É aí que entra o Villa. Quer se goste dele ou não, trata-se
de acadêmico com perfil, trajetória e produção. Ocorre que resolveu trocar tudo
isso pela ribalta das personas célebres. Não se enganem: na ponta do lápis,
pode até valer a pena. Mas o custo da aventura costuma ser bem alto.
Travestido de “jornalista”, Villa usou e abusou, por alguns
anos, do proselitismo político. Quem ouvia ou assistia a seus comentários tinha
a impressão de estar diante dos batidos faroestes italianos em que mocinhos e
bandidos eram perfeita e nitidamente identificáveis. E dá-lhe surtos indignados
contra “ladrões”, “incompetentes” e “corruptos”. Aliás, o professor fez das
falas contra a corrupção sua cruzada pessoal.
Ambos, Jovem Pan e Villa, surfaram a onda conservadora e
dela se fartaram. Villa concorreu obstinadamente para inflar o ventre da besta;
para engordar a estrutura que lhe amplificava os brados de pretensa retidão e
integridade. Na companhia de dois ou três garotos mal saídos das fraldas,
digital influencers (seja lá o que isso signifique), fez amiúde o papel
grotesco do intelectual orgânico da direita ressentida.
Não obstante, nunca é demais repetir, a escolha infeliz não
veio sem custos. A agenda da Jovem Pan estava (e assim continua) assentada no
obscurantismo, na ignorância, na apreciação rasa, ligeira, enfim, na ode ao
lugar-comum. E Marco Antonio Villa, por mais, digamos, exótico que pareça,
guarda da formação acadêmica um certo compromisso com a verdade e decência
intelectuais. Em outras palavras, a brisa do Iluminismo não cessa de soprar
mesmo para aqueles cujos holofotes são mais atrativos que a investigação da
realidade social tal como ela se apresenta.
Villa não deu conta. Compatibilizar (alguma) honradez
intelectual e condescendência com o governo Bolsonaro – e tudo aquilo que ele
congrega e representa – foi demais até para ele. Coube ao Grupo Jovem Pan
expurgar o (agora) corpo estranho. E dá-lhe sentimento de indignação e
injustiça…
Paulo Emílio Douglas de Souza – Cientista político
No GGN
Via – Contexto Livre
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