Uma característica intrínseca da direita, em todo o mundo, é
o distanciamento racional em relação ao outro, o que pode ser interpretado como
falta de empatia, mas é algo ainda mais cruel.
Uma vez, eu disse a alguém muito próximo que para entender a pobreza, a dor da miséria, é preciso fazer, minimamente, um exercício de aproximação do outro. Veja bem: aproximar-se é menos que se colocar no lugar, mas já nos dá uma dimensão emocional bastante razoável da dor alheia. Falei: "Ande, ao menos, na periferia, uma vez na vida, para entender as diferenças".
Ele me respondeu: "Eu estudei para, justamente, não ter
que frequentar a periferia".
Nem a periferia, nem a cozinha, nem o pátio da fábrica,
muito menos uma tribo indígena onde crianças morrem por falta de médicos.
E não porque eles não existam, mas porque os que existiam de
lá foram tirados, e os que ainda existem, para lá não querem ir.
O fato é que, sem que as pessoas boas percebessem, a maldade
entrou nas escolas disfarçada de excelência em competição e fez delas antros de
formação de líderes nas aulas de cada-um-por-si.
As crianças mortas no Xingu não são "indiozinhos",
como informam esses tarefeiros de redação em tom complacente.
São brasileiros assassinados pela estupidez de um governo
fascista apoiado, justamente, por essas pessoas motivadas por coaches e idiotas
do mesmo calibre que acreditam ter estudado para não ter que se importar com
ninguém, além de si mesmo.
Leandro Fortes, jornalista
Via – Contexto Livre
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