Especialista militar e assessor do Conselho de Defesa da
Presidência da Venezuela explica a parceria entre os países.
Brasil de Fato
Um avião da Força Aérea da Rússia pousou no aeroporto
internacional Simón Bolívar, em Maiquetía, na grande Caracas, na última
segunda-feira (24). O Ministério de Relações Exteriores da Rússia confirmou a
informação, na terça-feira (25), por meio de um comunicado do vice-ministro dos
Negócios Estrangeiros, Sergey Ryabkov. À bordo do avião estava um grupo de
técnicos para a manutenção de equipamentos militares fornecidos anteriormente
ao país.
Segundo Ryabkov, os especialistas "continuarão
trabalhando na manutenção dos equipamentos fornecidos à Venezuela no marco dos
contratos de cooperação técnico-militar". Ele enfatizou ainda que a
cooperação entre a Venezuela e a Rússia é transparente e não representa uma
ameaça à segurança regional.
Essa é a segunda vez que um avião russo pousa em território
venezuelano neste ano. Em março, dois aviões chegaram à Venezuela com
equipamentos de alta tecnologia e cerca de 100 militares especializados, para
cumprir com os acordos de cooperação técnico-militares entre os dois países.
O convênio entre a Rússia e a Venezuela é extenso e inclui
assistência técnica, fornecimento de armas, equipamentos e tecnologia militar
de última geração, explica o assessor do Conselho de Defesa da Presidência da República
da Venezuela, Juan Eduardo Romero, cientista político e doutor em História.
Segundo ele, a chegada do avião russo à Venezuela faz parte da rotina de
assistência técnica prevista por esse convênio. “Faz parte de uma relação que
vem avançando", diz.
“A parceria russo-venezuelana, em termos estratégicos e
militares, abarca um conjunto de tecnologias militares. Entre os equipamentos
fornecidos pela Rússia estão os fuzis Kalashnikov (AK47), aviões-caça Sukhoi,
sistemas de radares S-300, os laçadores de mísseis terra-ar", afirma.
O convênio, iniciado por Hugo Chávez, em 2003, visava
fortalecer a proteção contra as ameaças do Plano Colômbia, levado adiante pelos
EUA, que implicou no aumento do armamento no país vizinho.
Conflito de interesses
A aproximação entre a Rússia e a Venezuela nos últimos meses
têm gerado incômodos ao governo dos Estados Unidos. O secretário de Estado Mike
Pompeo e o presidente Donald Trump já criticaram publicamente a presença dos
russos. Recentemente o senador Rick Scott, do estado da Florida, classificou o
envio desse último avião russo como uma “má decisão” e acrescentou: “A Rússia
deve prestar atenção às nossas advertências”.
Segundo o assessor do Conselho de Defesa da Venezuela, o
convênio entre a Venezuela e a Rússia incomoda aos Estados Unidos muito mais
que os convênios com outros países não-alinhados. E explica: “A disputa
histórica dos EUA tem sido mais com a Rússia do que com a China, Turquia e Irã.
No caso particular desse acordo com a Rússia, ele é centrado na área militar,
setor em que a competição entre as duas potências é muito maior”.
Além disso, a tecnologia utilizada pela Rússia tem se
mostrado superior em alguns aspectos, afirma o especialista militar. “A
tecnologia russa em relação aos aviões de quinta geração tem maior capacidade
de combate. Os aviões Sukhoi que a Venezuela possui tem um teto superior a 24
mil pés (7.300m), muito acima dos aviões F-15 e F-16, que os EUA utilizam como
principal frota de combate. Adicionalmente a isso, o sistema de radar russo
mostrou eficiência contra os voos de drones que os EUA estão utilizando. E no
combate corpo a corpo, os fuzis AK-47 demonstraram sua versatilidade e maior
resistência que os fuzis utilizados pelos estadunidenses. Tudo isso é uma
preocupação para os EUA”, analisa Romero.
Por essas razões, os EUA enxergam o convênio entre a
Venezuela e a Rússia com maus-olhos. “Isso tem a ver com a preocupação do
Departamento de Estado do país norte-americano, de que os acordos entre a
Rússia e a Venezuela escalem a um nível que resulte em exercícios militares
conjuntos. Isso para os EUA é uma ameaça a seus interesses estratégicos na
região, muito mais que Cuba”, diz.
Ele também ressalta que a tecnologia russa fornecida à
Venezuela elevou a capacidade de dissuasão da Força Armada Nacional Bolivariana
em relação aos países vizinhos, especialmente com a Colômbia e as ilhas
caribenhas, que possuem tecnologia dos Estados Unidos.
O assessor do Conselho de Defesa venezuelano afirma ainda
que a tendência é que a parceria entre a Rússia e a Venezuela seja ampliada,
caso as ameaças dos EUA de intervenção militar contra a Venezuela continuem.
Intervenção militar
O responsável pelos assuntos da Venezuela no governo Trump,
Elliott Abrams deu uma entrevista coletiva na sede do Departamento de Estado
dos Estados Unidos, nesta terça-feira (25), e falou sobre o apoio da Rússia à
Venezuela.
"Chegou um novo avião da Rússia na Venezuela. Segundo
eles, é para reparar o sistema de armamento vendido anteriormente. O que
sabemos, com certeza, é que esse avião não levava ajuda humanitária. Enquanto
isso o Usns Comfort (navio médico militar dos EUA) está viajando pelo Mar do
Caribe levando ajuda para os venezuelanos e a Rússia continua levando mais
técnicos-militares", apontou.
Encarregado dos EUA para a Venezuela critica presença de
avião militar russo | Foto: AFP
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Abrams disse que os Estados Unidos “continuarão apoiando o
líder opositor Juan Guaidó”, mas que ele deve deixar de pedir intervenção
militar dos Estados Unidos, pois essa decisão não depende de um pedido da
oposição venezuelana.
"[Uma intervenção militar] não depende de estrangeiros
ou de um congresso de nações fora dos EUA. Essa é uma decisão [de entrar na
guerra] tomada apenas pelo presidente dos Estados Unidos, quando ele decide que
nossa segurança nacional está em risco", reforçou Abrams, que disse acreditar
em solução pacífica para a Venezuela.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira
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