Em entrevista à revista Época, o esquisador da memória, do
sono e dos sonhos, o neurocientista e escritor brasiliense Sidarta Ribeiro diz
que a Educação no Brasil nunca foi tão maltratada. Ele participa da Flip neste
sábado, às 19h, na mesa Massacará, em Paraty (RJ) para lançar o seu livro
"O oráculo da noite", em que traça uma história do sonho por uma
perspectiva não apenas científica, como também literária, antropológica e
psicanalítica.
'O sonho simula um futuro possível com base nas lembranças
do passado', diz Sidarta Ribeiro Foto: Elisa Elsie / Divulgação
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Autor de mais de noventa artigos científicos em periódicos
internacionais, diretor da Sociedade Brasileira para o Progresso de Ciência
(SBPC) e membro do Comitê Diretivo da Escola Latino-Americana de Educação,
Ciências Cognitivas e Neurais, Sidarta demonstra preocupação com os rumos da
educação do país. Segundo ele, Educação é a base da pesquisa e vem sendo
maltratada como nunca.
O ensino em níveis fundamental e médio está sucateado e os
salários do magistério são péssimos. As universidades estão sob forte restrição
orçamentária e a pós-graduação agoniza com o corte de bolsas da Capes.
Cientistas de todas as idades começam a migrar para o exterior e a drenagem de
cérebros volta a preocupar. Não existe país no mundo - ainda mais com as
dimensões brasileiras - que tenha desenvolvido a economia sem investir
seriamente na educação e na ciência. É evidente que o futuro da pesquisa
brasileira está em risco, e portanto o próprio futuro do Brasil está em risco,
diagnostica.
Sidarta falou também da autonomia universitária, que está
sob ataque, tanto por restrições orçamentárias quanto por ingerências em sua
gestão. O decreto presidencial 9794/2019 distorceu o sistema de nomeações de
dirigentes universitários ao delegar ao governo federal não apenas a nomeação
de reitores, mas também as indicações para cargos de segundo e terceiro
escalões. Esse decreto viola a autonomia universitária prevista no artigo 207
da Constituição Federal, afirma.
Livrarias
Ele cita o caso de três instituições - Universidade Federal
do Rio (Unirio), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Universidade
Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) – em que o governo nomeou como reitores
pessoas derrotadas na consulta feita à comunidade acadêmica, ou que nem mesmo
participaram dessa consulta. É um retrocesso histórico que precisa ser
revertido, diz ele.
De acordo com o cientista, o ataque à Educação não é
inédito, mas na escala em que tem ocorrido é novo e muito preocupante. Para
ele, o conflito ideológico no Brasil chegou às raias do absurdo, fazendo que
muitas pessoas aceitem teses estapafúrdias desde que sejam vistas como um
contraponto a seus adversários. Por causa dessa miopia, muitos apoiadores do
governo veem nas escolas e universidades um inimigo a combater, espalhando
notícias falsas e destilando ódio contra a melhor ferramenta de que dispomos
para desenvolver nossa sociedade: a educação pública de qualidade, afirma.
Ele conclui enfatizando que o Brasil perdeu 30% de suas
livrarias na última década. Metade das escolas não tem espaço para a leitura e
contamos com apenas uma biblioteca pública para cada 30 mil habitantes.
Estima-se que 44% dos brasileiros não tenham o hábito da leitura e que 30%
nunca compraram um livro em toda a vida. “Precisamos nos perguntar a quem
interessa que um país tão grande e tão cheio de riquezas naturais se afaste
cada vez mais da construção de um pensamento crítico bem fundamentado”,
finaliza.
Via - Portal Vermelho
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