Por Maicon Fortunato
A maioria dos humanos não religiosos manifesta em seus
julgamentos éticos, políticos e existenciais valores essencialmente religiosos.
Acredita ter rompido com uma forma de compreensão da vida moldada pelo sagrado.
Tece críticas aos fundamentos religiosos por considerar
infundados e irracionais. Por outro lado, é incapaz de perceber que em seus
juízos acerca da vida humana há um número infinito de exemplos de sacralização
e divinização.
O homem dito profano avalia a conduta moral, as ideologias
políticas e as perspectivas existenciais tomando como parâmetro elementos,
intrinsecamente, religiosos: retoma o papel do redentor, do justo, do
"eleito" e do "ungido" na figura do messias dos nossos
dias, o proletariado.
Retoma a interpretação sagrada do maniqueísmo ao suprimir a
diversidade e a multiplicidade, reduzindo a vida política ao embate entre o bem
e o mal, transfigurada na sempiterna luta da direta e esquerda (e não há outra
opção aos seus olhos).
Retoma a ideologia messiânica judaico-cristã ao prever o fim
da história como o fim dos conflitos políticos. A luta final entre Cristo e o
Anticristo também transfigurada na luta entre burgueses e proletariados. Como
evidencia Eliade (O Sagrado e o Profano), o homem dito profano possui a mesma
esperança que o homem cristão, a saber, espera romanticamente o fim absoluto da
história e a consagração da paz.
Evidentemente, o militante profano se orgulha de suas novas
crenças e como as ovelhas religiosas, abraça seus, supostos, novos princípios e
carrega por debaixo de seus braços o prenúncio de uma nova ordem: a verdade
revelada.
O profano de nossos dias reza a mesma cartilha que os
ortodoxos religiosos e, assim sendo, torna seus valores mais medíocres do que
aqueles fundados pela crença religiosa.
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