Senador Pedro Simon (PMDB-RS) revelou que pediu ao general Fernando Belfort Bethlem (comandante do III Exército em 1976) a autópsia do corpo do ex-presidente João Goulart, porém o militar recusou o pedido, sem lhe dar explicação; a inédita informação, mantida em sigilo por 37 anos pelo parlamentar, coloca o Exército no centro das especulações envolvendo a exumação dos restos mortais de Jango
Rio Grande do Sul 247 – "O general Fernando Belfort Bethlem (comandante do III Exército em 1976) recebeu meu pedido de autópsia e recusou, sem me dar nenhuma explicação", revelou, nessa sexta-feira (13), o senador Pedro Simon (PMDB-RS) ao jornalista Darío Pignotti, correspondente no Brasil do jornal argentino Página 12, que faz a denúncia.
A inédita informação de Simon, que o senador manteve em sigilo por 37 anos, coloca o Exército no centro das especulações que hoje envolvem a exumação dos restos de João Goulart, trazido a Brasília com honras militares, em novembro passado. Na capital, a Polícia Federal fez a coleta de amostras agora sob investigação de dois laboratórios do exterior que examinam a possibilidade de envenenamento por agentes a serviço da Operação Condor, que coordenava a repressão das ditaduras no Cone Sul.
A conversa do senador com o general foi no QG do III Exército, na rua da Praia, em Porto Alegre, no dia da morte de Jango, 6 de dezembro de 1976, quando o corpo do ex-presidente ainda estava na Argentina e já havia dúvidas sobre as circunstâncias de sua morte. "Esta recusa, vista hoje, após tantos anos, me provoca uma grande suspeita sobre como morreu Jango, se é verdade que o envenenaram", disse o senador gaúcho. Na época, Simon era deputado estadual e presidente do MDB, o partido de oposição à Ditadura Militar (1964-1985).
Apontado pelo jornal de Buenos Aires como "o único senador em atividade que acompanhou Goulart quando foi deposto em 1964, que discursou durante o velório de Jango em 1976 e voltou a falar na semana passa em São Borja no seu segundo enterro", Simon disse que Jango era "um grande estorvo" para a ditadura.
"Eles não queriam que voltasse nem morto. Jango era querido pelo povo, uma multidão acompanhou seu caixão quando chegou a São Borja. A multidão se amontoou, baixou o caixão do carro funerário e o levou para a igreja, desafiando aos militares que queriam enterrá-lo logo em seguida. O povo não parecia ter medo", declarou o parlamentar.
Em dois encontros em Brasília com o jornalista Darío Pignotti, Simon contou que procurou o general Bethlem no QG do III Exército, hoje denominado Comando Militar do Sul, para falar sobre a necessidade de uma autópsia. Identificado como a "linha dura" da fação mais radical do Exército, Bethlem foi ministro do Exército do governo Geisel, permanecendo até o final do mandato, em 1979.
"Ao mesmo tempo, o doutor Ulysses Guimarães (presidente nacional do MDB) fez o mesmo pedido em Brasília, não recordo a quem", afirmou Simon, revelando a decisão do Governo Geisel de não permitir qualquer investigação sobre a morte inesperada de Jango.
Simon pode depor na Argentina
O impacto da denúncia de Pedro Simon pode ser medida pela imediata repercussão na corte de justiça de Paso de Los Libres, que desde 1993 investiga formalmente a morte de Jango, num processo sob o comando da juíza Gladys Mabel Borda. Uma fonte do tribunal informou ao jornal Página 12 que o senador Simon deve se convidado a depor perante a corte argentina.
"Temos centenas de folhas no processo sobre a morte do ex-presidente João Goulart e nunca houve alguém que dissesse isso que disse o senador Pedro Simon. Estes fatos são muito importantes para nós", declarou a fonte ligada à juíza Borda.
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