Documentário independente, dirigido por Ana Petta, atriz da
Companhia do Latão, e pelos cineastas Vandré Fernandes, Fábio Bardella e Andre
Michiles, “Osvaldão” conta a história do comandante negro da Guerrilha do
Araguaia.
Por Carolina Maria Ruy*
Um financiamento coletivo permitiu que o filme chegasse ao
circuito comercial em sete capitais, começando por São Paulo (SP). Sua
pré-estreia ocorreu última segunda feira (dia 30), no Espaço Itaú de Cinema, e
ele passa a ser exibido regularmente no dia 10/12/2015.
Segundo Ana Petta a equipe que criou o documentário pediu
contribuição financeira “de todos os que gostariam de levar o Osvaldão para os
cinemas”. Idealista, formada na nata do movimento estudantil, Petta afirma que
o desejo da equipe é que, “a juventude e o país possam conhecer a história de
um brasileiro que lutou bravamente pela nossa democracia”.
Entre “os que gostariam de levar o Osvaldão para o cinema” a
Força Sindical se destacou como uma das maiores colaboradoras para financiar o
evento. Seu presidente, Miguel Torres, considera que “Apoiar a viabilidade
deste filme nas salas de cinemas é muito importante porque, ao mesmo tempo,
valoriza a cultura nacional, promove o resgate da história sob um viés dos
movimentos sociais e, ao mesmo tempo, traz para o senso comum o importante
debate sobre a construção da nossa democracia”.
Após assistir ao filme, na pré-estreia, o secretário geral
da Força Sindical, João Carlos Juruna, afirmou que “Esse debate ainda está em
aberto: hoje se fala muito sobre guerrilha no campo e na cidade, e isso é
importante, como mostra o filme, mas o processo democrático também veio graças
à luta daqueles que souberam ocupar instituições, como sindicatos, imprensa,
igreja e o MDB”.
O documentário, que passou a integrar a agenda das salas no
último dia 20 de novembro, aproveitando o “mês da Consciência Negra”, já foi
exibido na 39º Mostra Internacional de Cinema e nas Escolas Estaduais Caetano
de Campos da Consolação e Caetano de Campos da Aclimação, SP, em solidariedade
ao movimento de ocupação das escolas de São Paulo.
Seus pontos mais interessantes são as imagens raras, e em boa
qualidade, do Osvaldão na Tchecoslováquia e, principalmente, a grande
quantidade de depoimentos de camponeses que tiveram a chance de conviver com
ele.
Mas afinal, por que Osvaldão?
A história deste icônico militante está ligada à história da
Guerrilha do Araguaia, que começou em 1966, quando os primeiros militantes do
Partido Comunista do Brasil (PCdoB), entre eles Maurício Grabois, João Carlos
Haas Sobrinho e o negro, engenheiro e campeão de boxe, Osvaldo Orlando da
Costa, o “Osvaldão”, começaram a chegar na região amazônica, ao longo do rio
Araguaia, onde hoje é o Bico do Papagaio.
Área isolada do resto do País, habitada por um povo humilde,
migrantes, agricultores ou garimpeiros, a mata também servia para esconder
opositores políticos, e foi palco de um dos mais sangrentos embates entre
ditadura militar e guerrilha.
O objetivo daquele grupo, animado pelas Revoluções Chinesa e
Cubana, era se infiltrar nos entornos do Rio Araguaia, interagir com o povo,
fomentar um levante popular, derrubar a ditadura iniciada em 1964 e estabelecer
a revolução socialista a partir do campo. A Guerrilha foi aniquilada através da
Operação Marajoara (1973), a penúltima dentre tantas, após anos de investidas
militares frustradas, sucedida apenas pela operação voltada a apagar os rastros
criminosos dos militares. Poucos fatos na história brasileira são tão cobertos
de sigilo quanto a Operação Marajoara. Mais de cinquenta militantes do PCdoB
ainda são considerados desaparecidos políticos.
Osvaldão, tema do filme, foi, entre aqueles jovens, um dos
que mais se sobressaiu, tornando-se figura mítica, dada a força de sua
liderança, a altivez de seu porte de boxeador e, sobretudo, ao seu carisma. Até
hoje ele é lembrado com carinho e é uma lenda no local.
Ele é descrito pelo jornalista Hugo Stuart, em seu livro Lei
da Selva (Geração Editorial), como uma lenda insuperável, “gigante de ébano,
campeão de boxe pelo Vasco da Gama, tenente do Exército brasileiro, coronel da
patente conquistada no curso partisans do Exército da Tchecoslováquia”, e
ainda, “o mais conhecido e carismático entre os guerrilheiros” cuja memória é
hoje disputada pelos homens com quem caçou, mulheres que amou e filhos que
deixou.
Em todo o filme, da infância à morte do personagem principal
(em 1974), a presença da floresta se faz imponente e exuberante. A mata
selvagem corrobora a aura de misticismo que envolve o comunista e sua
lembrança.
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FICHA TÉCNICA
Osvaldão
Lançamento: 2014.
Direção: Vandré Fernandes, Ana Petta, Fabio Bardella e André
Michiles.
Roteiro: Vandré Fernandes
Fotografia e Montagem: André Michiles e Fabio Bardella
Trilha Original: Daniel Altman
Vocais Especiais: Criolo, Antonio Pitanga, Leci Brandão,
Renegado e Fernando Szegeri
Produção Executiva: Renata Petta, Ana Petta, Adalberto
Monteiro e Leocir Costa Rosa
Realização: Fundação Maurício Grabois
Produção: Clementina Filmes
Coprodutora: Estrangeira Filmes
*Carolina Maria Ruy, jornalista e coordenadora do Centro de
Memória Sindical, publicou o livro O Mundo do Trabalho no Cinema.
Via - Portal Vermelho
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