Mauricio Macri assumiu nesta quinta-feira (10) a presidência
da Argentina tendo como aliados os governos dos maiores distritos eleitorais do
pais, entre eles a Província de Buenos Aires (a maior e mais rica da Argentina)
e a capital, Buenos Aires. Entretanto, ele não tem maioria no Congresso, que
continua sob controle do Partido Justicialista (ou Peronista) de sua
antecessora, Cristina Kirchner. Com isso, Macri vai precisar de apoio para
realizar as promessas de campanha, a começar pela redução da inflação de mais
de 20% ao ano.
No primeiro discurso como presidente, Macri prometeu
combater a pobreza, o narcotráfico e a corrupção, além de defender as conquistas
sociais, a educação e um Poder Judiciário independente. Ele pediu,
principalmente, a união dos argentinos, mesmo os que não votaram nele e que
representam 48% do eleitorado.
“Temos de tirar o enfrentamento do centro do cenário",
afirmou o presidente ao prometer um estilo novo de governar, sem “personalismo”
e com trabalho de equipe. “Os conflitos desnecessários geram fanatismos que,
tantas vezes, nos arrastaram à violência”, acrescentou.
O discurso foi pronunciado no Congresso, onde Macri prestou
juramento perante legisladores e presidentes de outros países. Candidatos
derrotados nas eleições presidenciais argentinas, inclusive o governista Daniel
Scioli, estiveram presentes. A ex-presidente Cristina Kirchner e parte de sua
bancada não compareceram, um sinal de que a união porposta por Macri pode
demorar a se concretizar. Até a cerimônia de posse foi motivo de disputa.
Cristina queria entregar a faixa presidencial e o bastão de
mando no Congresso, onde ela tem maioria no Senado e a primeira minoria na
Câmara dos Deputados. Macri insistiu em respeitar a tradição: prestar juramento
perante os legisladores, mas fazer a cerimônia de transmissão de um governo
para outro na Casa Rosada, o palácio presidencial.
A falta de acordo prejudicou a organização do evento, que
envolvia também a chegada de delegações internacionais. A Justiça foi acionada
para decidir quem tinha direito a decidir como e onde seria a festa. Ao ser
informada que seu mandato terminava oficialmente à meia-noite de quarta-feira
(9) - e não ao meio-dia de quinta (horário previsto para o juramento de Macri) - Cristina resolveu não participar da festa.
Ela organizou outra, na Casa Rosada, para inaugurar um busto
do marido morto, Nestor Kirchner, presidente da Argentina de 2003 a 2007.
Depois, seguiu para a Praça de Maio, onde se despediu da multidão de
simpatizantes que apoiaram seus oito anos de governo. No discurso, Cristina
disse que o verdadeiro “militante” não defende suas ideias apenas quando está
no governo, mas também quando é oposição.
Cristina e seus ministros deixaram o governo na quarta-feira
à noite, sem que fosse assinado o decreto prevendo a exclusão aérea para
facilitar o pouso, nesta quinta-feira, dos aviões presidenciais. A presidenta Dilma Rousseff, que deveria ter
desembarcado em Buenos Aires às 11h20, chegou atrasada e perdeu a cerimônia no
Congresso, porque o avião foi obrigado a sobrevoar a capital argentina durante
20 minutos, antes de poder aterrisar na Base Aérea Militar.
Mas Dilma teve um encontro bilateral com Macri na Casa
Rosada antes da segunda parte da cerimônia: a entrega da faixa presidencial e
do bastão de comando. O Brasil foi o primeiro pais visitado por ele após a
vitória na eleição, no dia 25 de novembro. Além de Dilma, participaram da
solenidade os presidentes da Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru
e Uruguai.
Na Praça de Maio, uma multidão gritava “se puede, se puede”
- o slogan de Macri, que, em português,
quer dizer “podemos, podemos”. Macri
saiu ao balcão, com a mulher e a filha pequena, e dançou para o público.
Marta Simeone, uma contadora que levou a filha e neta à
praça, disse que tem esperança com o novo governo. ¨Os Kirchner dividiram o
pais entre os que estavam totalmente de acordo com eles e os outros”, afirmou.
“Eu não votei em Macri no primeiro turno, mas cada vez gosto mais da mensagem
dele de ser transparente e de querer unir o pais.”
Dilma retornou ao Brasil logo após a cerminônia na Casa
Rosada. Quase duas horas depois, enquanto Maurício Macri recebia as delegações
estrangeiras na Chancelaria argentina, Cristina embarcava num voo comercial da
empresa Aerolineas Argentinas para a Província de Santa Cruz, no Sul do país.
Ela viajou com o filho, na classe turística, para assistir à posse da cunhada,
Alicia Kirchner, como governadora. No Aeroporto Jorge Newbery, mais uma vez
simpatizantes se despediram dela.
O comerciante Gaston Prado disse que deve a vida aos
Kirchner. “Fiquei sem emprego durante a crise de 2001. Era mais fácil importar
qualquer coisa do que produzir no pais.” Kirchneristas e macristas concordam
que anos de inflação alta reduziram o poder aquisitivo dos argentinos e que os
preços sobem cada dia.
“Macri terá de
desvalorizar a moeda, de modo a tornar a economia argentina mais competitiva,
inclusive em relação a vizinhos como o Brasil, que é o maior sócio comercial da
Argentina”, informou à Agência Brasil o economista Fausto Spotorno. Ele também
terá de atrair investimentos estrangeiros, porque o Banco Central herdado de
Cristina Kirchner está com poucas reservas. Desde a moratória da divida
externa, em 2001, o país continua sem
acesso ao mercado financeiro internacional.
Edição: Armando Cardoso
Via – Agência Brasil
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