Além de Richa e Ratinho, cabe destacar o silêncio dos prefeitos de Curitiba e região metropolitana, que, em troca de apoio político dos governadores de plantão, calam-se e não defendem os interesses do povo.
Por Jornal GGN
do MAB – Movimento dos Atingidos
por Barragens
Torneira seca e tarifa cara são
os custos da privatização da água no Paraná.
Por Robson Formica
Da Coordenação Nacional do MAB.
Por um lado, a água é um direito
humano fundamental, a serviço das necessidades mais básicas da vida, com
qualidade e de forma acessível. Por outro, ela é objeto da ganância das
transnacionais, que buscam lucros com a privatização deste bem, à custa da exploração
do povo, com tarifas elevadas e péssima prestação de serviços.
Recentemente, o Congresso Nacional aprovou o Projeto de Lei (PL) 4162/2019 que facilita a privatização da água e do saneamento no Brasil, transformando a água, que é um direito, em uma mercadoria. Aqui no Paraná, o governo aprovou na Assembleia Legislativa o PL 416/2020 que adapta a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) ao que foi aprovado em Brasília.
Na prática a Sanepar já vive uma
forma de privatização “por dentro”. Desde 2011, o governo [Beto] Richa (PSDB)
aumentou a distribuição de lucros e dividendos aos acionistas da empresa,
passando de 25% para 50% sobre o lucro líquido.
O atual governador, Ratinho
Júnior (PSD), segue a política adotada por Richa na Sanepar, privilegiando os
acionistas, sendo que mais de 40% das ações globais da companhia estão nas mãos
do capital estrangeiro. Dessa forma, de cada R$ 100 de lucro líquido a Sanepar
paga R$ 50 aos acionistas e destes, R$ 20 é para estrangeiros.
Enquanto isso, os governos Richa e Ratinho reajustaram a tarifa da Sanepar em quase 160%, contra uma inflação de 60% no mesmo período. Os lucros da Sanepar só aumentam, mesmo com toda estiagem e rodízio aplicado. De 2011 a 2019, o lucro líquido da Sanepar aumentou em 700% e a distribuição de lucro aos acionistas aumentou em quase 800%.
Pior do que tudo isso é que, desde a metade da década de 1990, vários estudos apontam os riscos para Curitiba e região metropolitana na questão do abastecimento de água. Ocupações irregulares, causadas pela falta de planejamento urbano, ausência de políticas de preservação de nascentes, mananciais e rios, dentre outros, eram apontados como fatores de risco ao abastecimento.
Já em 2010, a Agencia Nacional das Águas (ANA) publicou o Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água que aponta como principal desafio para Curitiba e região metropolitana a incorporação de novos mananciais para garantir o abastecimento à população. O estudo indica
como fundamental a construção de
uma barragem no rio Miringuava, em São José dos Pinhais, e que a mesma deveria
estar concluída até 2016.
Na prática, as obras da barragem iniciaram em 2016 e ainda não terminaram. A obra foi paralisada por irregularidades e o Tribunal de Contas do Paraná aplicou multas a gestores por irregularidades no processo da obra. Além disso, o mesmo tribunal indicou risco e insegurança na estrutura da barragem em 2019, pois as obras haviam sido abandonadas e a manutenção das estruturas não havia ocorrido.
Dessa forma cabe ressaltar que a
estiagem que afeta Curitiba e região metropolitana escancarou os problemas e
malefícios causados pela política privatista dos governos Richa e Ratinho na
Sanepar. O aumento da distribuição de lucros aos acionistas fez com que a
Sanepar diminuísse drasticamente sua capacidade de investimentos para garantir
água na torneira do povo.
Além de Richa e Ratinho, cabe
destacar o silêncio dos prefeitos de Curitiba e região metropolitana, que, em
troca de apoio político dos governadores de plantão, calam-se e não defendem os
interesses do povo, afinal a Sanepar presta um serviço, concedido pelo
município, para abastecer a população com água, o que não vem ocorrendo.
Quase todos os prefeitos de Curitiba e região metropolitana foram apoiados por Beto Richa em 2016 e agora serão apoiados por Ratinho, em 2020, como é o caso do candidato a reeleição Rafael Greca (DEM), em Curitiba.
Vale destacar que o Governador Ratinho Junior foi secretário de desenvolvimento urbano no governo Beto Richa de 2012 até 2018, e tinha como missão a obtenção de recursos e apoio técnico especializado, assistência técnica ligada ao desenvolvimento urbano e regional, aprimoramento de serviços e solução de problemas comuns, ordenar o pleno desenvolvimento das cidades e garantir o bem-estar dos habitantes.
Assim, Richa, Ratinho e os
prefeitos apoiados por eles nada disso fizeram e a torneira secou.
Água é um direito, não é mercadoria.
*É coordenador nacional do Movimento
dos Atingidos por Barragens (MAB)
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