A força da greve nacional dos bancários, que completa 21 dias nesta quarta-feira (9), arrancou uma nova negociação entre o Comando Nacional, coordenado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), e a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) para ocorrer nesta quinta (10), às 10 horas, em São Paulo.
Na sequência, ao meio-dia, haverá negociação das reivindicações específicas com o Banco do Brasil e com a Caixa Econômica Federal.
A nova rodada foi marcada após a rejeição pelas assembleias dos sindicatos da proposta de reajuste salarial de 7,1% e aumento do piso em 7,5%, apresentada pelos bancos na última sexta-feira (4), que foi considerada insuficiente pela categoria.
"Com os lucros de R$ 59,7 bilhões entre os meses de junho de 2012 e 2013, sobram recursos para compensar o trabalho e a dignidade dos bancários", destacou, em nota, o presidente da Contraf, Carlos Cordeiro. A reivindicação dos bancários é elevação salarial de 11,93% (aumento real de 5%), piso de R$ 2.860,21 e particiapação nos lucros de três salários-base, mais parcela adicional fixa de R$ 5.553,15. Eles pedem também aumento dos vales-refeição e alimentação (no valor de um salário mínimo, R$ 678), e melhores condições de trabalho, com o fim das metas individuais e abusivas.
Lucros crescentes
Na Bahia, os trabalhadores consideram um desrespeito, se levado em conta que o sistema financeiro é, disparadamente, o segmento mais lucrativo da economia nacional.
O presidente do Sindicato da Bahia (Seeb), Euclides Fagundes, não tem dúvida. “Os bancos podem oferecer muito mais. A única saída é a radicalização da greve”. Nesta quarta-feira (09), às 16h30, os bancários realizam nova passeata pelo Centro de Salvador e na quinta-feira (10) voltam a se reunir em assembleia, às 18h30, no Ginásio de Esporte, ladeira dos Aflitos.
Segundo levantamento da Consultoria Economática, entre as 316 empresas brasileiras de capital aberto, que tiveram uma aumento no lucro líquido de 18,4% no segundo trimestre de 2013, o setor bancário, com 24 instituições, é o que teve a maior lucratividade no período (R$ 17,13 bilhões). Aumento de 46,6% em relação ao segundo trimestre do ano passado, quando alcançou R$ 11,69 bi.
Para os bancários, os resultados confirmam que os banqueiros têm todas as condições de atenderem as reivindicações dos bancários na campanha salarial, principalmente, de aumento real e de PLR (Participação nos Lucros e Resultados). Os balanços dos seis maiores bancos no Brasil (Banco do Brasil, Caixa Federal, Itaú, Bradesco, Santander e HSBC) no primeiro semestre demonstram que lucraram juntos R$ 29,6 bilhões, 18,21% a mais do que no mesmo período de 2012, quando seus resultados alcançaram R$ 25 bi. O aumento da receita com tarifas também foi significativo. Passou de R$ 41,5 bilhões em junho de 2012, para R$ 46,7 bilhões em junho deste ano, crescimento de 12,51%.
Greve forte
Apesar das práticas antissindicais dos bancos, como os interditos proibitórios, ameaças a grevistas e contingenciamentos, a greve vem crescendo dia após dia.
No 19º dia da paralisação, os bancários mantiveram fechadas 11.717 agências e centros administrativos de bancos privados e públicos em todos os 26 estados e no Distrito Federal - o que representa um crescimento do movimento de 90,6% em relação ao primeiro dia, quando 6.145 estabelecimentos financeiros foram parados.
“A força da nossa greve quebrou o silêncio dos patrões. Ainda assim, a proposta apresentada pela Federação Nacional dos Bancos foi considerada insuficiente e a orientação do Comando Nacional dos Bancários é pela permanência da greve até que os bancos apresentem proposta mais satisfatória”, afirma o presidente do Sindicato dos Bancários de Sergipe (SEEB/SE) José Souza.
Segundo o Indicador Serasa Experian da Demanda do Consumidor por Crédito, o número de pessoas em busca de crédito diminuiu 9,8%, em setembro, comparado a agosto, em razão da greve dos bancários. Na sexta-feira 4, a CNDL (confederação dos lojistas) havia estimado perda nas vendas de até 30% em regiões como a Nordeste, onde o uso do dinheiro no varejo é maior, por conta da paralisação da categoria.
Na base da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe (Feeb), 1.009 agências permanecem sem funcionar, sendo 837 na Bahia e 172 em Sergipe. Na base do Sindicato da Bahia, 477; de Vitória da Conquista, 71; de Feira de Santana, 34; de Ilhéus, 27; de Irecê, 37; de Jacobina, 28; de Jequié, 27; de Itabuna, 37; de Camaçari, 17; de Barreiras, 57; e de Juazeiro, 25.
Os trabalhadores demonstram determinação de seguirem firmes até que os bancos atendam às reivindicações da categoria, no que diz respeito à valorização profissional e melhores condições de trabalho.
Em São Paulo, até os trabalhadores de algumas das principais concentrações do Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Federal estão de braços cruzados. Pressão constante pelo cumprimento de metas abusivas, falta de valorização, número insuficiente de pessoal são alguns dos motivos elencados pelos trabalhadores terceirizados ou não, que deriram ao movimento paredista.
Os centros administrativos Brigadeiro, ITM, Tatuapé, Tecnológico Operacional e Raposo, do Itaú; os Casas 1, 2 e 3 e call center, do Santander; Nova Central, Telebanco, Prime e Núcleo Alphaville, do Bradesco; complexos São João, 15 de Novembro e Verbo Divino, do Banco do Brasil; e a Superintendência Regional Penha e a Diret, da Caixa Federal.
A maioria dos complexos administrativos paralisados abriga setores estratégicos das instituições financeiras como os serviços de call center. Além dessas concentrações estão em greve funcionários de bancos públicos e privados dos centros Velho e Novo, Paulista e Osasco.
Nesta terça-feira (8), no 20º dia de greve, os bancários paralisaram 11.748 agências, centros administrativos e call centers em todos os 26 estados e no Distrito Federal, um crescimento de 91,1% em relação ao primeiro dia da paralisação, quando 6.145 dependências foram fechadas. "Não é à toa que a força do movimento afetou as vendas do comércio e a concessão de financiamentos, o que comprova a importância do trabalho da categoria para o atendimento da população e a geração dos resultados dos bancos", destaca Carlos Cordeiro.
As principais reivindicações dos bancários
Reajuste salarial de 11,93% (5% de aumento real além da inflação)
PLR: três salários mais R$ 5.553,15
Piso: R$ 2.860,21 (salário mínimo do Dieese)
Auxílios alimentação, refeição, 13ª cesta e auxílio-creche/babá: R$ 678 ao mês para cada (salário mínimo nacional)
Melhores condições de trabalho, com o fim das metas abusivas e do assédio moral que adoece os bancários
Emprego: fim das demissões, mais contratações, aumento da inclusão bancária, combate às terceirizações, especialmente ao PL 4330 que precariza as condições de trabalho, além da aplicação da Convenção 158 da OIT, que proíbe as dispensas imotivadas
Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) para todos os bancários
Auxílio-educação: pagamento para graduação e pós-graduação
Prevenção contra assaltos e sequestros, com o fim da guarda das chaves de cofres e agências por bancários
Igualdade de oportunidades para bancários e bancárias, com a contratação de pelo menos 20% de negros e negras.
Com informações do Portal CTB, Seebs e Contraf e Portal Vermelho
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