A coragem das argentinas que posaram nuas para ajudar um hospital público. Além da compra do equipamento, grupo quer enviar a outras mulheres a mensagem de que devem se aceitar como são, sem plásticas ou “marcadas pela vida”
Natalia Ollarce quis posar com asas de borboleta. Para ela, sinônimo de libertação (Reprodução) |
Sessenta mulheres na Argentina decidiram posar nuas para
financiar a compra de um mamógrafo para um hospital público da região da
Patagônia.
Além da compra do equipamento, o grupo, composto por donas
de casa, comerciantes, arquitetas, professoras, publicitárias e funcionárias
públicas da cidade de Villa la Angostura, na Patagônia, quer enviar a outras
mulheres comuns a mensagem de que devem se aceitar como são, sem plásticas ou
“marcadas pela vida”.
Por trás câmeras e do projeto, batizado de ‘Mujer en amor’
(‘Mulher com amor’, em tradução livre), está a fotógrafa Paola Pierini.
“Queríamos mostrar as mulheres como elas são e transmitir a
ideia de que podem ser felizes com seus corpos”, disse ela à BBC Brasil.
“Alguém que está preocupada com imagem tem até o prazer
afetado na hora do sexo”, afirmou.
Calendário
As fotos de 12 mulheres, com idades entre 25 e 60 anos, vão
ilustrar um calendário 2014 que será lançado no mês que vem. Elas esperam
arrecadar US$ 70 mil (R$154 mil) com as vendas, que serão destinados à compra
do mamógrafo para o hospital Oscar H. Arraiza.
As outras imagens estarão disponíveis na página do projeto
no Facebook, por meio da qual Pierini convocou as modelos.
“Foram três meses, desde a convocação até a realização das
fotos”.
Segundo ela, a iniciativa atraiu mulheres “que chegaram em
um momento da vida em que querem se reafirmar e dizer a outras que se amem e se
sintam bem com o próprio corpo”.
A ideia inusitada atraiu mulheres não só do local, como
também da capital Buenos Aires e do Chile, disse Pierini. Mas o calendário
reúne apenas as moradoras de Villa la Angostura, ponto turístico no sul do
país.
‘Amor a si mesma’
A arquiteta Susana Requena, de 60 anos, viúva, mãe de três
filhos e avó, contou que foi a primeira vez que tirou a roupa diante de uma
câmera.
“Gostei da ideia de mostrar como somos, com estrias, com as
marcas da vida e do tempo”, disse.
Ela foi submetida a uma mastectomia há dez anos, mas não
realizou cirurgia reparadora do seio.
“Sou uma das mulheres marcadas pela vida porque me falta um
seio. E isso é difícil. Posar (para o calendário) foi uma oportunidade de ser
feliz comigo mesma”, disse, rindo.
“Foi como voltar a ter harmonia com meu corpo”, afirmou.
Antes de posar, ela conversou com os filhos que moram na
Inglaterra, na Costa Rica e em Buenos Aires. “Eles me deram a maior força, já
viram a foto e gostaram muito”.
Muitas modelos só se conheceram no dia da sessão de fotos,
em um hotel da cidade.
“Mas foi muito divertido. E hoje, meus clientes me
parabenizam”, disse Requena.
Marido
A dona de casa Natalia Ollarce, de 30 anos, e mãe de três
filhos, contou que no início o marido não gostou da ideia, mas acabou lhe
ajudando a desenhar as asas de borboleta que ilustram sua foto desnuda.
“Somos reais e poucas vezes vemos mulheres como nós mesmas
na televisão”, disse.
E por que as asas? “Imaginei asas de borboleta, como símbolo
de libertação”, respondeu, acrescentando que outras mulheres vão se identificar
com a ideia.
Além do calendário, elas também foram filmadas para um vídeo
de promoção que será exibido no dia do lançamento do calendário.
BBC via Pragmatismo Político
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