O assalto foi na madrugada de domingo em um ônibus que fazia a linha Nova Esperança a Paranavaí.
Morreram em uma troca de tiros a policial
militar Silvia de Sá da Silva, 32 anos, a passageira Ariane Pereira, 21 anos, e
o assaltante José Joaquim Gonçalves,
Um jovem de 20 anos foi preso ontem de manhã em Nova
Esperança acusado de ter ajudado o homem que tentou roubar os passageiros de um
ônibus intermunicipal na madrugada do domingo.
O assalto terminou com duas passageiras e um assaltante
mortos. Uma das mulheres, Silvia de Sá da Silva, de 32 anos, era policial
militar e estava à paisana. Ela trocou tiros com o ladrão. Uma quarta pessoa
foi atingida de raspão. A policial estaria acompanhada de um filho de 10 anos,
uma prima e uma sobrinha.
De acordo com a Polícia Civil, o jovem que foi preso ontem
teria levado seu comparsa até o ponto de ônibus. Ele também seria o responsável
em ajudá-lo na fuga após o roubo. Os dois já foram reconhecidos por terem
realizado um assalto em uma distribuidora de bebidas durante o dia. O rapaz
preso nega participação no segundo roubo.
O assaltante morto tinha passagens pela polícia e estava em
liberdade desde o dia 6 de setembro, segundo a polícia.
O ASSALTO - De acordo com a Polícia Civil, o assalto
aconteceu quando o ônibus que seguia de Nova Esperança para Paranavaí parou em
um ponto de ônibus na Avenida Cidade Alta. O assaltante José Joaquim Gonçalves,
32 anos, simulou ser passageiro e ao entrar no veículo sacou uma arma e cobriu
o rosto com uma touca.
O ônibus estava com 15 passageiros e tinha começado a
viagem. O ladrão estava agressivo e exigia o dinheiro do caixa. Porém, o caixa
estava vazio porque os valores foram recolhidos pela empresa no terminal rodoviário.
O assaltante passou a exigir que os passageiros jogassem no
corredor do veículo tudo o que tinham de valor. Um homem idoso recebeu a ordem
de recolher o material. Ele recusou e acabou tomando uma coronhada na cabeça.
Uma mulher, também idosa, foi agredida pelo ladrão, que a jogou no chão.
A policial passou o dia em Maringá, em um evento religioso,
e voltava a Paranavaí na última linha do ônibus intermunicipal.
TROCA DE TIROS - A policial militar Silvia de Sá da Silva,
32 anos, que estava sentada no fundo do ônibus, acabou agindo e houve
confronto. A policial usou sua pistola calibre 40, de propriedade da Polícia
Militar, e acertou dois tiros nas pernas, um no braço e outros dois no peito do
ladrão.
Mesmo ferido, Gonçalves descarregou um revólver calibre 38
na direção da policial. Ela foi alvejada com um tiro no olho direito. Outras
duas balas atingiram o abdômen da passageira Ariane Pereira, 21 anos, que
estaria posicionada na linha de tiro. Os três morreram no local. Uma terceira
passageira, Milene Costa da Silva, 19 anos, foi ferida de raspão, sem maiores
consequências.
AGIU CORRETAMENTE - O comandante do 8º Batalhão da Polícia
Militar (8º BPM), major Ademar Carlos Paschoal, afirmou que a policial militar
analisou a situação e, com base em seus treinamentos, tomou a decisão de agir.
“A policial era preparada e chegou a integrar a equipe da
Rotam, por isso, acredito que ela agiu corretamente. Deve ter percebido o
perigo que os passageiros corriam e mesmo fora de serviço decidiu intervir com
heroísmo para protegê-los”, disse o comandante.
A tenente-coronel Audilene Rosa de Paula Dias Rocha, chefe
do 3º Comando Regional, afirmou que em nenhum momento a policial reagiu ao
assalto. Disse que os passageiros relataram que o assaltante estava agressivo e
aparentava estar drogado.
“Hoje vivemos um momento doloroso porque perdemos uma
policial que não temeu pela própria vida. Com certeza ela agiu porque a
situação devia apresentar um risco para os usuários do ônibus. Tecnicamente ela
efetuou os disparos no sentido de controlar a situação”, falou Audilene.
POLÊMICA NA MUNIÇÃO - Durante o velório, ontem de manhã,
houve grupos de conversa em que os policiais questionavam a eficiência da
munição oferecida pelo Estado. Os policiais acreditam que o material não tenha
qualidade, e isso teria permitido a reação do ladrão. Um oficial chegou a dar
entrevista para uma emissora de rádio, quando reforçou as dúvidas sobre a
eficácia do material.
De acordo com os policiais, recentemente houve dois casos na
região do 8º BPM que comprovariam tais suspeitas. Uma ocorrência foi em
Guairaçá. Nesta ação, um policial teria trocado tiros com um suspeito, atingido
na região do ombro. Em outra ocorrência, em Paranacity, o suspeito foi atingido
com oito tiros. Nos dois casos os homens feridos não morreram. “Em uma situação
normal com munição de qualidade, com certeza eles não teriam sobrevivido”,
disse um policial, que preferiu não ser identificado.
A chefe do 3º Comando Regional acredita ser prematuro
afirmar que foi a munição usada pela policial que não conteve o ladrão. Mesmo
assim, disse que passará a situação para o comando. Caberá a ele providenciar
testes para verificar a eficiência da munição. “A munição segue um padrão
internacional e acredito ser prematuro dizer algo neste sentido. Porém vamos
analisar o caso”.
Sepultada com honras militares
A policial militar Silvia de Sá da Silva, 32 anos, foi
enterrada na manhã de ontem no cemitério central de Paranavaí com honras
militares. Seu corpo foi transportado em um caminhão do Corpo de Bombeiros e,
na entrada do cemitério, três companheiros de turma fizeram uma salva de tiros.
No momento em que o corpo foi colocado na sepultura, um militar executou o
toque de silêncio (na corneta).
Centenas de pessoas compareceram ao sepultamento. Policiais
que estavam de folga e outros de destacamentos da região também estiveram
presentes. A policial Silvia foi enterrada em trajes militares. Seu filho de 10
anos recebeu a bandeira nacional que cobriu o caixão durante o sepultamento. A
entrega foi feita pela chefe do 3º Comando Regional. “Esta é a sua herança.
Guarda essa homenagem e lembre de sua mãe como uma heroína”, afirmou Audilene à
criança.
OUTRAS VÍTIMAS - Também foram enterradas ontem as outras
duas pessoas mortas no confronto. A comerciária Ariane Pereira, 21 anos, e José
Joaquim Gonçalves, 32 anos, foram enterrados no cemitério de Nova Esperança.
Ariane morava na região central de Paranavaí. Ela trabalhava
em um comércio. No sábado, retornava de Nova Esperança, onde tinha ido visitar
a mãe. Ela teria entrado no ônibus um ponto antes do ladrão.
No Diário do Noroeste
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