O escândalo do propinoduto tucano, que trata da corrupção
ativa da multinacional francesa Alstom, empresa investigada pelo pagamento de
subornos em projetos ligados aos trens e ao metrô de São Paulo, segue cada vez mais perto da cúpula do PSDB de São Paulo.
Nesta quinta-feira (23), reportagem dos jornalistas Fausto
Macedo e Ricardo Chapola, do diário conservador paulistano Estado de S. Paulo,
aponta responsáveis muito próximos dos governadores na época, a saber, José
Serra e Geraldo Alckmin.
A personagem central da trama, no momento, é José Luiz
Alquéres, ex-presidente da filial da Alstom no Brasil e também ex-presidente da
Eletrobrás, durante o governo FHC. Documentos enviados por promotores da Suíça
ao Brasil indicam que ele pode ser peça chave no pagamento de propinas a
dirigentes tucanos. Em 18 de novembro de 2004, ele “recomenda enfaticamente” a
diretores da empresa na França que contratem o consultor Arthur Gomes Teixeira,
personagem apontado pelo Ministério Público como lobista e pagador de propinas
entre 1998 e 2003 a personagens ligados ao PSDB.
No período em que comandou a Alstom, Alquéres sempre fez
questão de destacar seu bom relacionamento com a cúpula tucana. “Temos um longo
histórico de cooperação com as autoridades do Estado de São Paulo, onde fica
localizada nossa planta”, escreveu. “O novo prefeito recém-eleito participa das
negociações que vão nos permitir a reabertura da Mafersa como Alstom Lapa. O
atual governador também participa.” O prefeito recém-eleito era José Serra e o
governador, Geraldo Alckmin.
Segundo a reportagem do Estadão, em 2004, a Alstom Lapa
“claudicava”. “Com uma carteira minguada de contratos públicos e reduzidos
investimentos, aquele setor da empresa, na zona oeste da capital, esteve na
iminência de cerrar as portas”, diz o texto.
A reversão veio com contratos assinados com a Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos e com o Metrô. “Tais projetos representam um
total de cerca de 250 milhões de euros”, dizia Alquéres na sua comunicação com
a França. “Nesse período de mudanças sofremos duas grandes derrotas em leilões
públicos, coisa que não ocorria há anos. Mas ainda podemos ter sucesso nos 4
projetos que o Estado de São Paulo vai negociar ou leiloar nas próximas
semanas.”
Ele então cita os “amigos” que tinha nos governos tucanos.
“O processo está avançando, começo a receber mensagens de parceiros em
potencial, e, principalmente, dos amigos políticos do governo que apoiei
pessoalmente. A Alstom deve estar presente, como no passado.”
Esses emails fazem parte do processo que envolve João
Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM, acusado de receber propinas de US$ 836
mil. As mensagens indicam claramente que o apoio de Alquéres, no entanto, não
se restringia aos escalões inferiores do governo paulista. Muitas delas foram
enviadas para Philippe Mellier, presidente mundial da Alstom, e assim foram
classificados pelos promotores suíçios: “E-mail Alquéres para Mellier de 18 de
novembro de 2004, com possíveis indícios de atos de corrupção no contexto de
projetos de transporte no Brasil”. Para o governador Alckmin, os contatos com
Alquéres foram institucionais e visavam atrair empregos para o Estado de São
Paulo.
Segundo o jornalista Altamiro Borges, em sua página na
internet, “a reportagem do Estadão deixa nus dois dos principais líderes do
PSDB. José Serra, que ainda está na briga para desalojar Aécio Neves e ser o
candidato da legenda a sucessão presidencial de 2014, já garantiu várias vezes
que nunca teve ligação com os chefões das multinacionais do transporte. Já o
governador Geraldo Alckmin tentou se apresentar como vítima de cartéis, jurou
inocência e total desconhecimento dos contratos e até montou uma comissão de
fachada para apurar o escândalo”.
Ainda segundo Borges, “agora, ambos são apresentados como
‘amigos da Alstom’. Segundo o ex-presidente da multinacional no Brasil, ‘o novo
prefeito recém-eleito participa das negociações que vão nos permitir a
reabertura da Mafersa como Alstom Lapa. O atual governador também participa’.
Apesar das inúmeras provas que pipocam todos os dias, a Assembleia Legislativa
de São Paulo se recusa a instalar a CPI para apurar o caso. A maioria tucana
sabota todas as iniciativas neste sentido. Com as novas denúncias e, principalmente,
com a urgente pressão das ruas será inevitável a convocação da CPI.
Fonte: Correio do Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário