Cerca de 8% dos moradores da região são beneficiários do Bolsa Família, maior índice do estado e o dobro da média. Região enfrenta problema de distribuição de riqueza
Fabiana Bruno mora com os filhos em um barraco – nem isso os irmãos dela têm |
Fabiana Bruno tem 22 anos, um marido e dois filhos pequenos. Mora em um barraco erguido por conta própria, com ajuda dos irmãos, nos fundos do terreno da casa da mãe, Dona Roseli. Mesmo com tão pouco, é considerada privilegiada pela família, pois tem um lugar para chamar de seu. Seis de seus irmãos, com idades entre 8 e 27 anos, e dois sobrinhos moram com Dona Roseli, em uma casa de dois quartos. O cantinho de Fabiana não tem piso, a única janela está sem vidros e, para amenizar a entrada do vento frio, as paredes são revestidas de cobertores. Mas pior que a situação atual é o futuro de Fabiana: não há perspectiva de melhora.
O marido, que trabalha como boia-fria na agricultura, está desempregado. A renda dos quatro vem dos R$ 130 do programa Bolsa Família e do pouco dinheiro extra que ela consegue lavando roupa de outras famílias — Fabiana não concluiu o ensino médio. “Eu não posso dar para eles [os filhos: Luan (2) e Luana (4)] a vida que eles merecem, mas dou o que eu posso.” O possível é dar educação moral, amor e uma casa asseada. Qualquer coisa além disso é difícil.
Fabiana vive em Laranjal, cidade com o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Paraná. A região dela, o Centro-Sul, é a mais pobre e atrasada economicamente do estado. “Não tem emprego aqui. Aparece serviço de doméstica, para lavar roupa. E tem gente que ainda não paga”, reclama Cidineia Massaneiro Alexandre, 18 anos, irmã de Fabiana.
Em Laranjal, 15% dos 6,3 mil moradores dependem do Bolsa Família para o sustento. No conjunto das 24 cidades do Centro-Sul, 8% das pessoas usam o benefício — maior índice do Paraná e o dobro da média estadual, de 4%. A região é a pior empregadora na relação entre o número de carteiras assinadas (71,9 mil) e a população total (454,6 mil): 16%. A média do Paraná é quase o dobro disso: 29%.
Outro exemplo da dificuldade da região para criar oportunidades vem de Eramos Carlos Rosa dos Santos, de 18 anos. Ele vive em trânsito, entre o trabalho e a casa da mãe, Erondina Aparecida Rosa dos Santos. Desde os 16 anos, o rapaz vai a outras cidades para trabalhar, retornando depois de um tempo, com o dinheiro que conseguiu. “Em Curitiba, trabalhei numa fábrica de chocolates por três meses. Em Joinville, fiquei seis meses como servente de pedreiro, e, em Laranjeiras do Sul, fiquei um tempo numa fazenda cuidando do gado.”
Há vários indicadores sociais ruins no Centro-Sul: a maior proporção de extremamente pobres do estado, o menor índice de coleta de lixo e a segunda maior proporção de domicílios sem esgoto. O Centro-Sul tem a oitava economia entre as 11 regiões do estado, com R$ 6,3 bilhões de Valor Adicionado Bruto a Preços Básicos – um índice que mede a geração de riquezas. Os dados apontam para a grande desigualdade social da região.
Distribuição de terras
Diretor do Centro de Pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Júlio Takeshi Suzuki Júnior diz que o Centro-Sul tem a maior média de tamanho das propriedades rurais, com muitos latifúndios. “A região tem uma estrutura fundiária que é um dos fatores impeditivos de desenvolvimento, junto com restrições ambientais, devido aos remanescentes florestais e ao baixo potencial do solo.”
O prefeito de Marquinhos, Luiz Cesar Batistel, acrescenta que boa parte dos grandes proprietários de terra não mora na região. “Tenho aqui de 15 a 20 grandes fazendas, com 300 a 1,5 mil alqueires, em que os donos são de Campo Mourão, Cascavel e Maringá. Eles criam gado e, quando o animal está quase pronto para o abate, eles levam os bichos para essas cidades, onde terminam de engordar. O ICMS fica lá. Esses caras não gastam aqui.”
Professor de Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Moacir Piffer concorda que parte da pobreza do Centro-Sul é alimentada pela elite que investe dinheiro em outras cidades. Para ele, dinamizar a economia da região passa por melhorar as estradas rurais e o acesso às cidades. “As estradas influenciam em tudo: no escoamento da produção, na ida das crianças para a escola e na questão da saúde. O pequeno agricultor está largando a terra e vindo para a cidade, porque os filhos precisam estudar”, diz Joceli de Fátima Ramos Zeni, coordenadora da pastoral em Guarapuava.
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