O Brasil já conheceu candidatos messiânicos. O Jânio ia salvar o Brasil da corrupção. O Collor, do Estado povoado de marajás e das carroças. Deu no que deu.
Por Emir Sader
O messiânico se julga agente da Providência, diz que veio para dar um jeito em todos os problemas do mundo, escolhe os bons, que devem acompanhá-lo na gesta, não diz quais são os problemas, nem como vai resolvê-los. Se julga acima de tudo o que o mundo conhece.
O Brasil já conheceu candidatos messiânicos. O Jânio ia salvar o Brasil da corrupção. O Collor, do Estado povoado de marajás e das carroças a que o mercado interno protegido nos condenava. Deu no que que deu.
Marina diz que veio para nos salvar da polarização PT-PSDB, como se fosse uma terceira via. Esta foi uma operação internacional levada a cabo pela segunda geração de governantes neoliberais – Bill Clinton, Tony Blair – que pretendiam ser uma visão adocicada do neoliberalismo duro de Margareth Thatcher e de Ronald Reagan. Era a terceira vida quem convidada a FHC para suas reuniões, para mostrar que havia vida inteligente nestas paragens barbaras.
O próprio FHC queria ser a terceira via aqui, mas diante do fracasso do Collor teve que vestir o tailleur da Thatcher e fazer o jogo mais pesado do neoliberalismo: privatizações, abertura dos mercados, Estado mínimo, precarização laboral. Uma vez mais a terceira via não pôde se realizar.
Marina apela de novo a esse chavão gasto da terceira via, desta via, de forma messiânica, para nos salvar da polarização PT-PSDB. Só que deixa seu rabo de fora: equipe econômica ortodoxamente neoliberal – André Lara Resende, Neca Setúbal, Eduardo Gianetti da Fonseca -, independência do Banco Central, etc., etc. , o mesmo tipo de equipe dos tucanos – da mesma estirpe de Armínio Fraga -, e as mesmas posições.
A terceira via da Marina se volta contra o Estado e sua apropriação pelo PT, pregando a superação disso, que chama de “bolivarianismo”.
A mescla integra componentes da salada ideológica do seu discurso: ONGs, sociedade civil, menos Estado. Silêncio total sobre as teses que caracterizam os avanços na superação do neoliberalismo do FHC: centralidade das políticas sociais, integração regional e intercâmbio Sul-Sul, papel ativo do Estado na economia e nos direitos sociais.
A equipe econômica e o discurso sobre a apropriação do Estado pelo PT não deixa dúvidas que traz no seu bojo um duro ajuste fiscal, tendo as políticas sociais e a massa da população como suas vítimas.
Marina se afirma assim como uma farsante, que afirma distância da polarização do PT e do PSDB, mas substitui a este, decadente, na polarização, com teses e equipes similares. Vem dar novo fôlego na direita brasileira, neoliberal como tem sido desde Collor, passando por FHC e chegando agora na Marina, segunda vida, estepe dos neoliberais, prestes a sofrer outra derrota.
Desmistificar essa “novidade” da Marina é o caminho para desinflar sua popularidade, mostrando seu caráter, a quem serve, que não tem nada de novo, menos ainda corresponde ao que as manifestações de junho de 2013 levantaram e ao que Brasil precisa para avançar.
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